Americana Davati tentou vender 400 milhões de vacinas que não existiam ao governo federal. Amilton Gomes atuou na intermediação da empresa junto ao Ministério da Saúde
(crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)Por Sarah Teófilo
Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, nesta terça-feira (3/8), o reverendo Amilton Gomes de Paula, presidente da Secretária Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), admitiu que receberia doações por ajudar a empresa americana Davati Medical Supply a vender vacinas contra covid-19 ao governo federal.
A empresa admitiu que não tinha os 400 milhões de doses da AstraZeneca que tentou negociar com o governo por meio do vendedor autônomo de vacina Luiz Paulo Dominghetti, cabo da Polícia Militar, e do representante Cristiano Carvalho. Gomes disse que foi procurado inicialmente por Dominghetti, e que chegou a ter duas conversas com o CEO da empresa, Herman Cardenas, que fica nos Estados Unidos.
Questionado pelo senador Fabio Contarato (Rede-ES) sobre qual seria o valor de doação da Davati à Senah. “Ele falou de doação, mas não se referiu à quantidade”, afirmou o reverendo. Contarato, então, pontuou: “Daí, o interesse do senhor em participar dessa negociação. Havia uma promessa de que a Senah ia receber uma doação, óbvio que o senhor teve interesse em que fosse concretizado, tanto é que o senhor enviou cartas aos governadores”. A informação sobre as doações havia sido mencionada por Amilton Gomes em entrevista ao jornal O Globo.
Ao senador Contarato, o reverendo afirmou que o interesse era humanitário. “O senhor estava ali de olho na doação, com todo o respeito. Não era uma questão humanitária, não; era sobre quanto que a Senah ia receber de doação. Agora, muito me admira o governo federal ter esse tipo de relação espúria para a aquisição de vacina com generais, coronéis, reverendo, e negando a aquisição de vacina feita pela Pfizer (...) O interesse, com todo o respeito, não era humanitário, não! O interesse era qualquer outro, menos humanitário”, disse o parlamentar.
Amilton Gomes disse, ainda, que não estava negociando vacinas pela Davati junto ao governo federal, mas apenas “indicando alguém que teria essas vacinas”. Apesar disso, em um e-mail enviado por Laurício Cruz, ex-diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, no dia 23 de fevereiro, um dia depois de o reverendo se reunir com ele na Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS), Laurício agradeceu a presença da Senah e a apresentação da proposta de 400 milhões de doses da AstraZeneca, dizendo ainda que os processos deveriam ser direcionados à secretaria-executiva, então comandada pelo coronel Elcio Franco.
Companhias nos EUA
O reverendo afirmou ao ser questionado pelo relator, Renan Calheiros (MDB-AL), que a Senah não possui contas no exterior. O senador Humberto Costa (PT-PE) pontuou que Amilton tem duas companhias sediadas na Flórida, nos Estados Unidos. Uma chamada Águia Dourada, e a outra, Fundação Humanitária Anjo Dourado. Perguntado se elas receberiam as doações de vacina, ele negou, e explicou que a Angel é uma fundação onde ele realiza projetos humanitários.