Conversa com presidente da Turquia ocorreu antes da foto oficial dos líderes, em Roma. Brasileiro também criticou a imprensa, disse que a economia cresce "forte" e elogiou militares
ROMA — Em conversa informal com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, no início da cúpula do G-20, na manhã deste sábado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ao ser perguntado sobre a Petrobras, afirmou que a estatal é "um problema". E também se gabou ao colega turco de ter "um apoio popular muito grande" e que a economia está crescendo "forte".
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A popularidade de Bolsonaro atingiu seu nível mais baixo em setembro, com 53% de reprovação, segundo o Datafolha. E a economia brasileira dá sinais de fragilidade, com bancos já prevendo recessão em 2022.
A conversa entre Bolsonaro e Erdogan ocorreu antes da foto oficial dos líderes presentes e que marcou a abertura da cúpula, que reúne neste fim de semana em Roma as 19 maiores economias do mundo, incluindo desenvolvidas e emergentes, além da União Europeia. É o primeiro evento desde o início da pandemia do coronavírus (em março de 2020).
Bolsonaro chegou ao evento de máscara e tirou apenas em alguns momentos neste sábado, como nas fotos em grupo e com o primeiro-ministro italiano Mario Draghi, como todos os demais. O presidente brasileiro havia sido criticado pela imprensa italiana por provocar aglomerações e não utilizar máscara durante seu passeio por Roma na sexta-feira.
Numa sala de café na antessala do espaço de reuniões, Bolsonaro se aproximou de Erdogan ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes. O brasileiro pediu ajuda a um tradutor para falar com o turco. Erdogan então perguntou sobre a situação do Brasil.
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— Tudo bem. A economia voltando bem forte. A mídia como sempre atacando, estamos resistindo bem. Não é fácil ser chefe de Estado em qualquer lugar do mundo.
Pouco depois, o presidente Turquia mencionou que o Brasil tem "grandes recursos petrolíferos" e citou nominalmente a Petrobras.
— Petrobras é um problema. Mas estamos quebrando monopólios, com uma reação muito grande. Há pouco tempo era uma empresa de partido político. Mudamos isso, afirmou Bolsonaro.
Erdogan quis saber quando era a eleição no Brasil. Ao ouvir que faltava pouco menos de um ano, completou dizendo que o presidente brasileiro ainda tinha muita coisa para fazer.
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Bolsonaro respondeu:
— Eu também tenho um apoio popular muito grande. Temos uma boa equipe de ministros. Não aceitei indicação de ninguém. Fui eu que botei todo mundo. Prestigiei as Forças Armadas. Um terço dos ministros [é de] militares profissionais. Não é fácil. Fazer as coisas certas é mais difícil.
Nesta tarde, Jair Bolsonaro terá um encontro bilateral, na embaixada brasileira em Roma, com o secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), Mathias Cormann. O Brasil tenta entrar na OCDE, considerado o clube dos países ricos.
Apenas dois encontros
Enquanto a maioria dos líderes presentes na reunião deste fim de semana na Itália estão tendo várias reuniões bilaterais, Bolsonaro tem apenas dois encontros presenciais agendados, de acordo com sua assessoria de imprensa. A falta de conversas com os demais chefes de estado aponta para um isolamento do presidente no grupo das maiores economias do mundo.
Na noite de sexta-feira, Bolsonaro se encontrou com o presidente italiano Sergio Mattarella, uma formalidade já que a Itália hospeda o encontro. A segunda reunião é a que está marcada para este sábado com Mathias Cormann, presidente da OCDE.
Outras reuniões poderiam ser marcadas, disse a assessoria de imprensa do presidente, enfatizando que apenas essas duas estão agendadas por enquanto.
Os ministros de Relações Exteriores da França e do Brasil, porém, planejam se reunir, após dois anos de relações frias, segundo três pessoas a par do assunto ouvidas pela Bloomberg. Jean-Yves Le Drian e Carlos França têm conversas marcadas para domingo.