POR - ROSANA HESSEL
A Petrobras acaba de anunciar novos reajustes nos preços dos
combustíveis nas refinarias, de 9,5% no diesel e de 7% na gasolina, mas
analistas alertam que os aumentos não vão parar por aí. É a segunda elevação de
preços no mês e ocorre em meio à ameaça
de greve dos caminhoneiros em novembro.
Conforme o comunicado feito pela estatal, nesta segunda-feira
(25/10), os novos preços passam a valer a partir de amanhã. O valor médio do
litro da gasolina será elevado de R$ 2,98 para R$ 3,19, alta de R$ 0,21. No
caso do diesel, o litro subirá de R$ 3,06 para R$ 3,34, o que representa
reajuste de R$ 0,28. Nas bombas, é certo que os preços da gasolina passarão de
R$ 7 em quase todo o Brasil.
“O alinhamento de preços ao mercado internacional se mostra
especialmente relevante no momento que vivenciamos, com a demanda atípica
recebida pela Petrobras para o mês de novembro de 2021”, informou a estatal em
nota. “Os ajustes refletem também parte da elevação nos patamares
internacionais de preços de petróleo, impactados pela oferta limitada frente ao
crescimento da demanda mundial, e da taxa de câmbio”, acrescentou.
A forte desvalorização do real frente ao dólar na semana
passada devido ao aumento da desconfiança de investidores no governo, que
sinaliza claramente que ameaça descumprir o teto de gastos para medidas
eleitoreiras, na contramão da promessa de fazer um ajuste fiscal e preservar as
regras vigentes, dando pedaladas em dívidas judiciais para abrir espaço para
emendas de parlamentares do Centrão, agravou o quadro para o consumidor, mas o
reajuste anunciado pela Petrobras não corrige a defasagem nos preços dos
combustíveis que alcança 20% em média.
De acordo com levantamento feito pelo Centro Brasileiro de
Infraestrutura (CBIE), com base na atualização do preço médio do último dia 18,
o litro do diesel na refinaria nacional ficou em R$ 0,76/ litro, ou 19,7%,
abaixo do preço negociado no Golfo do México, nos Estados Unidos. Conforme a
entidade, o resultado deve-se ao aumento de 0,7% no preço internacional do
diesel, somado ao aumento de 0,1% na taxa de câmbio (R$/US$), com relação à
semana anterior (11/10). Não houve ajustes no preço de refinaria doméstico do
diesel na semana em análise.
Pelas estimativas do CBIE, o preço da gasolina doméstica
ficou R$ 0,82/litro (ou 21,6%) abaixo do preço no Golfo do México (EUA), em 18
de outubro. O resultado teve influência da elevação de 3,1% no preço internacional
da gasolina, com relação à última semana, e da variação da taxa de câmbio,
citada acima. O preço de refinaria nacional da gasolina, também, não foi
ajustado, na semana em análise”, destacou o relatório.
Ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes, ontem, o
presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que o governo federal não vai
interferir nos preços da Petrobras e antecipou o novo reajuste de preços.
“Alguns querem que a gente interfira no preço. A gente não vai interferir no
preço de nada. Já foi feito no passado e não deu certo. Infelizmente, pelo
número do preço do petróleo lá fora e do dólar aqui dentro, nos próximos dias,
a partir de amanhã, infelizmente, teremos reajustes nos combustíveis”, afirmou.
De acordo com o economista e especialista em contas públicas
Murilo Ferreira Viana, essa defasagem “subiu bastante” devido a essa combinação
entre dólar e preço internacional do petróleo. “Com essa defasagem, os
reajustes devem perdurar”, alertou. Ele lembrou que, devido à instabilidade fiscal,
aprofundada semana passada, tem contribuído para uma deterioração do câmbio e o
preço internacional do petróleo não indica sinais de enfraquecimento
“Esses dois fatores contribuem para um cenário de novos e
significativos reajustes de preços”, explicou.
“O Governo voltou a atacar o ICMS pelo aumento dos combustíveis. A aprovação do projeto de lei que passou na Câmara levaria a uma diminuição média de R$0,46 (gasolina), R$0,42 (etanol) e R$0,17 (diesel). Somente o anúncio de aumento divulgado hoje pela Petrobrás prevê aumento médio de R$0,21 (gasolina) e R$0,28 (diesel)”, comparou. “Mesmo com reajuste anunciado hoje o preço interno ficará abaixo do praticado internacionalmente, demonstrando que a pressão por elevação de preços continuará, com a Petrobras buscando repassar essa diferença no futuro próximo”, completou.