Presidente comparou o caso de Genivaldo a um episódio, ocorrido em 18 de maio em Fortaleza, que levou à morte dois policiais rodoviários federais
Como lamentavelmente
grande parte de vocês [jornalistas] se comportam, sempre tomam as dores do
outro lado
O presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu hoje a PRF (Polícia
Rodoviária Federal) e disse querer justiça ‘sem exageros’ no caso da morte de
Genivaldo de Jesus Santos, um homem negro de 38 anos que foi sufocado durante
ação de policiais rodoviários federais em Umbaúba, município no litoral sul de
Sergipe, na semana passada.
O chefe do Executivo federal declarou que “vai ser seguida a
lei” e que “lamenta muito o ocorrido”, mas fez uma ponderação: ‘Não podemos
generalizar tudo o que acontece no Brasil”. “A PRF faz um trabalho excepcional
para todos nós”, completou.
“A justiça vai existir nesse caso e, com toda certeza, será
feita a justiça né… Todos nós queremos isso aí. Sem exageros e sem pressão por
parte da mídia, que sempre tem um lado: o lado da bandidagem.
Como lamentavelmente grande parte de vocês [jornalistas] se
comportam, sempre tomam as dores do outro lado. Lamentamos o ocorrido e vamos
com seriedade fazer o devido processo legal para não cometermos injustiça e
fazermos, de fato, justiça”, disse o governante.
As declarações ocorreram durante uma entrevista concedida na
manhã de hoje logo após sobrevoo pelas áreas afetadas pelas chuvas em
Pernambuco. Entre sexta-feira (27) e ontem, o estado contabilizava 79 pessoas
mortas em consequência do dilúvio e 3.957 desabrigados.
Na mesma entrevista, o ministro da Justiça e Segurança
Pública, Anderson Torres, afirmou apenas que a “apuração será a mais breve
possível” e que há procedimentos de investigação tanto na PRF, em âmbito
interno, quanto na Polícia Federal. Segundo ele, não há o que comentar enquanto
os procedimentos não forem finalizados.
Ex-capitão do Exército, Bolsonaro tem proximidade com as
forças policiais em geral, uma parte fundamental da base eleitoral do
pré-candidato à reeleição. Com a PRF, em especial, o presidente criou vínculos
nos últimos anos e até a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, chegou a ser
fotografada com o uniforme da instituição em claro sinal de prestígio. O chefe
do Executivo também defendeu reajuste diferenciado para a categoria, o que
levou a ameaças de greve de outros setores do funcionalismo público.
Na quinta (26), a PRF informou ter afastado os agentes
envolvidos na abordagem violenta que terminou com a morte de Genivaldo. A PF
mandou a Sergipe quatro peritos federais do Instituto Nacional de
Criminalística da Diretoria Técnica Científica.
A expectativa é que o inquérito aberto seja finalizado em até
30 dias. O MPF (Ministério Público Federal) também acompanha o caso e abriu
dois procedimentos, um cível e outro criminal, para investigar as
circunstâncias da morte.
Câmara de gás
improvisada
Genivaldo de Jesus Santos não resistiu após ser submetido a uma ação truculenta da PRF que, de acordo com vídeos e detalhes do boletim de ocorrência, mostram que os agentes usaram o que parecem ser bombas de gás lacrimogêneo para dominarem o homem. O crime ocorreu na quarta-feira (25).
A vítima foi colocada a força na parte de trás do carro
policial, e os agentes seguraram a porta enquanto Genivaldo inalava o gás
lançado na região do porta-malas. Segundo laudo do IML (Instituto Médico
Legal), a causa da morte foi “insuficiência aguda secundária a asfixia”.
Segundo testemunhas, ele foi abordado em uma blitz na rodovia
BR-101, enquanto pilotava uma motocicleta. Imagens de um vídeo gravado por uma
pessoa que presenciou a cena mostram que a ação começa com três agentes que se
lançam sobre o homem, na tentativa de o imobilizar ao encontrarem uma cartela
de remédios com ele.
Pelas frestas da porta traseira, mantida semi-fechada, é
possível ver fumaça escapando, enquanto se pode ver, na parte de baixo, as
pernas do homem balançando em desespero, enquanto ele grita no interior da
viatura. Em alguns momentos, um dos policiais tenta segurar as pernas de
Santos, enquanto o outro continua a bombear gás para dentro da viatura por uma
das frestas.
Toda a cena é assistida por dezenas de populares que, segundo demonstram os vídeos, preferiram manter distância dos policiais. “Vai matar o cara aí dentro”, diz um deles. Assim que Santos parou de se debater e gritar, os policiais fecharam a porta traseira da viatura, entraram no carro e deixaram o local.