Por Bela Megale
Bolsonaro ataca o Supremo durante evento do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos na última terça-feira (7) | Evaristo Sá/AFPNão se trata mais de uma avaliação externa. Membros do
governo Bolsonaro admitem que há riscos de o presidente entrar em campo para
tentar cancelar a realização das eleições de outubro, caso realmente acredite
que perderá. A crescente irritação de Bolsonaro e suas declarações são
apontadas por esses auxiliares como reflexos de um “cenário trágico”.
Integrantes do Palácio do Planalto afirmam que Bolsonaro
acredita que será reeleito. O presidente costuma citar a recepção que tem
recebido em agendas que faz pelo país e as cita como suposto termômetro de
vitória nas eleições. Aos aliados mais próximos, porém, já confidenciou que sua
ameaça de suspender a realização das eleições é uma hipótese real.
Em conversas privadas, o presidente usa o mesmo argumento
falso que já reverberou publicamente em outras ocasiões, falando que, “se não
tiver certeza que as eleição serão limpas”,
estas não acontecerão. Nestes diálogos a portas fechadas, Bolsonaro
sinaliza acreditar em um apoio das Forças Armadas nesta ruptura.
Ministros relataram à coluna que Bolsonaro está em um
“momento raivoso”, de sobressaltos e que veem a adoção das sugestões feitas
pelas Forças Armadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre as eleições
como um caminho para esvaziar qualquer pretensão golpista do presidente. A
corte já acatou total ou parcialmente dez de 15 propostas feitas pelos militares.
Desde o fim de 2021, as Forças Armadas passaram a questionar
a segurança das urnas e a colocar o processo eleitoral em xeque, em sintonia
direta com Bolsonaro. Na quarta-feira, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio
Nogueira, enviou um ofício ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
Edson Fachin, no qual pede uma reunião entre técnicos das Forças Armadas e da
corte. O documento adota um tom mais ameno que os anteriores, que chegaram a
dizer que os militares não se sentiam “prestigiados” no debate sobre o processo
eleitoral. Uma agenda entre técnicos das Forças Armadas e do TSE já ocorreu no
fim do ano passado.
A despeito do clima de animosidade, membros da cúpula das
Forças Armadas têm enfatizado publicamente que respeitarão o resultado das
eleições e que não se partirão de aventuras golpistas.