Pesquisa mostra diferenças entre quem está vulnerável financeiramente, amparado, seguro e superseguro
Lula e Bolsonaro: eleitorado mostra diferença na escolha de candidato à presidência conforme grau de estabilidade financeira e de renda Ricardo Stuckert/Instituto Lula e Alan Santos/PRUma pesquisa do Datafolha, divulgada nesta sexta-feira pela
"Folha de S. Paulo", mostra que o eleitorado apresenta uma acentuada
diferença de preferência na escolha de candidato à Presidência da República de
acordo com seu grau de estabilidade financeira e de renda. De acordo com os
resultados obtidos pelo levantamento do instituto, as curvas de intenção de
voto do ex-presidente Lula (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL) se invertem
à medida que esses dois fatores variam.
Lula lidera a pesquisa no geral e amplia sua vantagem ao se
considerar apenas os chamados eleitores vulneráveis — que são os de baixa renda
e rendimento instável. Bolsonaro, que segue um distante segundo lugar na
população em geral, fica na liderança quando se trata de entrevistados
considerados superseguros — esses são os mais ricos e com fonte financeira mais
garantida.
Os dados da pesquisa foram coletados nos dias 22 e 23 de
junho. Foram realizadas 2.556 entrevistas em todo o país. O levantamento
mostrou que Lula tem 47% das intenções de voto. Já Bolsonaro aparece com 28%. A
margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos em se tratando do
universo geral de eleitores e sobe variando nos recortes mais restritos da
amostra.
Em relação ao vulneráveis, o candidato petista aparece com um
pico de 57%. Nesse cenário, o atual presidente tem apenas 19%. Esse é o mais
populoso dos segmentos e a vantagem é o dobro da obtida na população em geral.
O desempenho de Bolsonaro dá um salto quando é levada em
consideração a categoria dos "superseguros". Esses são os
entrevistados com renda familiar estável e acima de cinco salários mínimos.
Nesse contexto, é mais alta a avaliação positiva do governo federal do que na
média da sociedade.
De acordo com o Datafolha, os critérios para a divisão foram
adotados a partir de análises estatísticas de diferentes características de
perfil do eleitor que indicaram variáveis fortemente correlacionadas com
intenções de voto. A análise do instituto, em princípio, fez uma separação do
eleitorado em três grupos, de acordo com a atividade econômica desenvolvida:
economicamente ativo estável (assalariados registrados, funcionários públicos,
aposentados e profissionais liberais), ativo instável (free-lancers e
desempregado procurando emprego, por exemplo) e não ativo ajustado (seriam
estudantes e desempregados que não buscam emprego).
Em seguida, o cruzamento de dados mostrou cinco grupos: vulneráveis,
resilientes, seguros, superseguros e amparados. Os vulneráveis são 37% dos
eleitores. O grupo é composto por cidadãos de renda instável e que não integram
a população economicamente ativa. Estão nele donas de casa e desempregados que
não procuram emprego. Os resilientes são 17% do total. Eles são os que têm
renda de até dois salários mínimos e têm perfil estável.
Com relação a estabilidade financeira e de renda, Lula perde
a liderança. Nesse grupo há mais simpatia pelos dois principais candidatos que
se colocam como alternativas à polarização. Bolsonaro tem 42% das intenções de
voto. A candidatura do PT fica com 30%. Ciro Gomes (PDT) vai a 12%. Já Simone
Tebet aparece com 5%, uma de suas pontuações mais altas entre os diferentes
recortes da pesquisa.
Inversamente, Lula nesse grupo tem rejeição proporcionalmente
menor que a registrada no total de entrevistados. Trinta e cinco por cento
dizem que não votariam no petista de maneira nenhuma, enquanto o índice é de
24% levando em conta somente essa categoria.
Dados mais detalhados da pesquisa mostram que os vulneráveis
afirmam ser os mais afetados com a crise econômica. Nessa fatia, 57% afirmam
que tiveram a situação financeira piorada — ante 47% no geral da população. Já
40% afirmam que a quantidade de comida em casa é menor do que a suficiente —
26% no universo geral. Nesse cenário, 44% recebem o Auxílio Brasil ou moram com
alguém que recebe — 22% no eleitorado total.
Rejeição
Em se tratando de rejeição, Lula também tem um ponto de
fragilidade. Entre os "superseguros", o índice do candidato do PT é
de 59%. Já o de Bolsonaro fica em 51%. O ex-presidente tem a taxa negativa
mantida elevada entre os seguros: 47%.
A pesquisa foi
registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número 09088/2022.
Categorias do Datafolha
Vulneráveis: Renda instável e os não economicamente ativos
com até dois salários mínimos por família. Esse grupo é majoritariamente
feminino, com mais desempregados que a média, e tem mais participação de
eleitores do Nordeste do que a média da população.
Resilientes: Renda instável, com até dois salários mínimos
por família, também majoritariamente feminino. Tem mais eleitores com
escolaridade fundamental que a média da população.
Amparados: Renda instável. Inclui os não economicamente
ativos com mais de dois salários mínimos. O grupo tem mais presença no sudeste
e é igualmente dividido entre homens e mulheres.
Seguros: Entre dois e cinco salários mínimos por família, têm
renda estável. Homens assalariados registrados e funcionários públicos compõem
o grupo.