Irmão de homem que matou petista afirma que ele havia ido fazer ronda no local da festa
O bolsonarista invadiu a festa de 50 anos de Marcelo, que tinha o PT como tema, e o matou, no último sábado (9), em Foz do Iguaçu (PR)
Familiares do policial penal Jorge Guaranho negam que o caso
em que ele matou o militante petista Marcelo de Arruda tenha sido político e
dizem viver um pesadelo.
O bolsonarista invadiu a festa de 50 anos de Marcelo, que
tinha o PT como tema, e o matou, no último sábado (9), em Foz do Iguaçu (PR).
Ele também acabou baleado e segue internado em estado grave.
Irmão de Guaranho, John Lenon Araújo diz que o policial foi
até o clube social da Aresf (Associação Recreativa e Esportiva da Segurança
Física), onde acontecia a festa, para fazer uma ronda. Ele era associado ao
clube e, segundo o irmão, essa era uma rotina entre os membros da associação.
Polícia já ouviu 14 testemunhas da morte de petista e
depoimentos confirmam discussão por política, diz secretário
“Várias outras pessoas
que eram associadas também faziam essa ronda. Então não foi nada de anormal
como foi noticiado, é uma rotina deles fazerem isso”, disse.
A polícia, por outro lado, investiga se o homem não foi até
lá após ter tido acesso a imagens das câmeras do local onde acontecia a festa
com temática petista.
Sobre o caso que acabou em morte, com base em relatos que diz
ter ouvido da esposa que estava com o irmão na hora do episódio, ele diz que o
caso não se justifica por questões políticas.
Segundo pessoas que estavam na festa, no dia do crime, Jorge
passou de carro em frente ao salão de festas dizendo “aqui é Bolsonaro” e “Lula
ladrão”, além de proferir xingamentos. Ele saiu após uma rápida discussão e
disse que retornaria.
De acordo com as testemunhas, Marcelo então foi ao seu carro
e pegou uma arma para se defender. Jorge de fato retornou, invadiu o salão de
festas e atirou. O petista, já ferido no chão, também baleou o bolsonarista.
Uma câmera de segurança registrou o crime.
O irmão contesta a versão das pessoas que estavam na festa.
“Eu tenho certeza que ele estava ali defendendo a família dele, foi somente
isso. Não teve nada a mais do que isso. Meu irmão não estava nem aí que o cara
era Lula, aniversário era do Lula, tema do Lula.”
“Pra gente isso é indiferente, tenho certeza que para o meu
irmão também. O cara é que, quando ouviu uma música do Bolsonaro, infelizmente,
perdeu a linha”, disse Araújo.
Ele afirmou que o irmão era apoiador de Bolsonaro, mas não
fanático. Araújo disse que o irmão jamais foi a alguma passeata ou participou
de partido e que só fez algumas postagens a favor do presidente.
“Ele não estava nem aí se o cara era PT ou não. Tem vários
amigos nossos que são da esquerda, que frequentam a minha casa, frequentam a
casa dele, nunca tivemos problemas com isso”, disse.
“A gente sempre teve esse relacionamento de diversidade. Eu
sou flamenguista, meu irmão é vascaíno. Eu sou evangélico, meu irmão é
católico, a gente conversava sobre esses assuntos, nunca discutimos por causa
disso”, disse.
Dalvalice Rosa, mãe de Jorge Guaranho, diz que toda a
situação tem dois lados. “Nós estamos vivendo um pesadelo desde sábado”, disse,
em curta conversa por telefone.
A reportagem entrou em contato com ela posteriormente. Rosa
disse que estava muito mal e que a ficha estava caindo agora, por isso, não
conseguiria falar mais naquele momento.
A reportagem também foi até a vizinhança de Jorge Guaranho,
em um bairro de classe média em Foz do Iguaçu. No local, encontrou a mulher de
Guaranho, que preferiu não falar. A esposa do bolsonarista disse apenas que
estava indo até o hospital.
Primeiro bate e depois
resolve consolar, diz irmã de petista morto sobre ligação de Bolsonaro
Identificando-se apenas como parente, uma mulher que estava
na casa também contestou que o policial teria agido daquela maneira por
questões políticas e lembrou que ele tem uma criança pequena.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Paraná, Guaranho
se encontrava sedado em assistência ventilatória mecânica, hemodinamicamente
estável e sem previsão de alta.
Jorge Guaranho parece ter uma vida discreta na vizinhança do
Jardim das Laranjeiras, onde vive com a família em Foz do Iguaçu. Em comércios
próximos de sua casa, as pessoas se mostraram surpresas com o fato de que ele
morava ali e não lembravam de tê-lo visto.
Em suas redes sociais, Jorge se define como conservador e
cristão. Ele usa as redes sociais principalmente para defender Bolsonaro, se
diz contra o aborto e as drogas e considera arma sinônimo de defesa.
Em junho de 2021, ele aparece sorrindo em uma foto ao lado do
deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do mandatário. “Vamos
fortalecer a direita”, escreveu em 30 de abril numa corrente da “#DireitaForte”
para impulsionar perfis de conservadores com poucos seguidores.
Sua última postagem antes do crime é um retuíte de uma
publicação do ex-presidente da Fundação Cultural Palmares Sérgio Camargo,
dizendo: “Não podemos permitir que bandidos travestidos de políticos retornem
ao poder no Brasil. A responsabilidade é de cada um de nós”.
Semanas atrás, o policial penal [trabalha em unidades
prisionais] publicou ainda uma mensagem de cunho LGBTfóbico ao comentar o
anúncio do jogador de futebol Richarlyson sobre ser bissexual. “Popeye assume
que come espinafre”, escreveu Guaranho.