Conselheiros se reúnem na sede da estatal, no Centro do Rio, em torno de uma pauta que inclui proposta para transferir da diretoria para o colegiado decisão sobre reajustes
Por Bruno Rosa
O Conselho de Administração da Petrobras se reúne nesta
quarta-feira com uma pauta polêmica envolvendo a atual política de preços dos
combustíveis praticada pela estatal, que alinha os valores cobrados pelas
refinarias às variações da cotação internacional do petróleo e do câmbio.
Os conselheiros vão discutir uma proposta que prevê que, a
partir de agora, seria o próprio Conselho de Administração da companhia o
responsável por estabelecer a política de preços. Com isso, a diretoria
executiva da estatal passaria a apenas executar as decisões.
Hoje, quem decide sobre reajustes dos combustíveis na
Petrobras é o presidente da estatal, o diretor financeiro e o diretor de
logística. Os três decidem, com base na cotação do dólar e do petróleo, e
informam ao Conselho de Administração.
O encontro do colegiado marcado para esta quarta-feira começa
às 9h na sede da estatal, no Centro do Rio de Janeiro. O presidente da
Petrobras, Caio Paes de Andrade, que também é um dos 11 conselheiros, não
deverá participar do encontro, pois se recupera de uma cirurgia.
Conheça as refinarias
que a Petrobras decidiu vender
Petrobras vendeu a Refinaria Landulpho Alves (RLAM),
localizada no Recôncavo Baiano, e mais sete unidades de refino, para para fundo
árabe por US$ 1,6 bi.Agência O Globo
Primeira refinaria do Brasil, a RLAM completou 70 anos
prestes a ser vendida. A unidade tem capacidade de produção de 333 mil
barris/dia. MME
Segundo uma fonte, o principal assunto na pauta é a proposta
de uma nova regra para a política de preços, que está sendo tratada como
"uma mudança estrutural para a companhia". Mas há quem classifique
como "jogada eleitoral".
Pressão para reduzir
preço do diesel
Uma outra fonte lembrou que a mudança faz parte do projeto do
governo de baixar ainda mais os preços dos combustíveis às vésperas da eleição.
No último dia 19 de julho, a estatal anunciou redução de 4,9% no preço da
gasolina nas refinarias.
O governo também já vem pressionando a estatal para reduzir o
preço do diesel nas refinarias, mas a diretoria vem resistindo alegando que
ainda não há espaço. Dados da Abicom, que reúne os importadores de
combustíveis, apontam que o preço do diesel no Brasil vem alternando cenários
de equilíbrio e de preços mais caros em relação ao cenário internacional nas
duas últimas semanas.
Dividendos superiores a
R$ 50 bi
Na quinta-feira, o Conselho volta a se reunir para tratar dos
resultados da companhia no segundo trimestre -- cujo balanço será divulgado no
mesmo dia com a perspectiva de novo lucro bilionário -- e deliberar sobre o
pagamento de dividendos.
Uma fonte disse que a empresa tem hoje fluxo de caixa para
pagar dividendos superiores a R$ 50 bilhões a seus acionistas. A ideia,
conforme revelou O GLOBO, é que a estatal antecipe a distribuição de dividendos
para ajudar na engenharia fiscal do governo para compensar o aumento dos gastos
públicos às vésperas da eleição.
O mercado financeiro espera dividendos robustos de R$ 38
bilhões. Na segunda-feira, a estatal informou que não havia uma decisão tomada
sobre o tema.
No ano passado, a estatal, sob o comando de Joaquim Silva e
Luna, aprovou o pagamento de antecipação da remuneração aos acionistas relativa
ao exercício de 2021. A ideia é fazer algo semelhante esse ano.
A União, por ser a maior acionista da empresa com 28,67% de
todo o capital, fica com a maior parte dos dividendos. O aumento no pagamento
de dividendos ocorre após pedido do governo federal e deve ser seguido por
outras estatais como a Caixa e o BNDES.
Os encontros do Conselho de Administração da Petrobras desta
semana serão os últimos com os atuais representantes. No dia 19 de agosto, os
acionistas vão se reunir para votar a nova composição do colegiado.
O governo decidiu manter as indicações do
secretário-executivo da Casa Civil, Jônathas Castro, e do procurador-geral da
Fazenda Nacional, Ricardo Soriano de Alencar, para integrar o colegiado, apesar
de parecer contrário do Comitê de Elegibilidade (Celeg) e do atual Conselho de
Administração.