Diferença de 12 pontos percentuais para Lula está acima do esperado pela campanha do presidente (Por Lauro Jardim)
O impacto inicial da primeira pesquisa presidencial do Ipec
se dá sobre a campanha de Jair Bolsonaro (PL). Ali, se esperava que a diferença
entre Lula e o presidente fosse surgir mais estreita do que os 12 pontos
percentuais registrados pelo ex-Ibope.
Por pelo menos três razões. Primeiro, porque há hoje um gigantesco
mercado de pesquisas na praça. Há levantamentos de todos os tipos, com
institutos novatos alardeando resultados ao gosto do freguês — tudo feito sob
medida para a guerra de versões que um embate eleitoral precisa. E algumas
dessas pesquisas indicavam que Bolsonaro teria empatado com Lula. Outras, muito
disseminadas nos grupos bolsonaristas nas redes sociais, mostravam até o
presidente ultrapassando o petista.
Mas não só. Alguns trackings eleitorais realizados na semana
passada mostraram que a diferença entre o presidente o ex-presidente era bem
mais curta do que os números do Ipec desta segunda-feira revelaram. Os
trackings são pesquisas de intenção de voto diárias encomendadas por bancos e
pelas campanhas dos candidatos com o intuito de monitorar o pulso da eleição
passo a passo — não para divulgação do resultado, até porque não são
registradas no TSE, mas para avaliação das estratégias e do cenário.
E, finalmente, o mais importante: o núcleo político da
campanha de Bolsonaro contava com algum dividendo oriundo de boas notícias
econômicas divulgadas nos últimos dias. E elas são reais. O mais recente índice
do custo de vida medido pelo IBGE apontou 0,68% de deflação. A gasolina e o
diesel tiveram mais de um reajuste para baixo no período. O Auxílio Brasil de
R$ 600 começou a ser pago na semana passada. Outros benefícios incluídos na PEC
Kamikaze também.
Algum alívio para a
campanha petista
Talvez o número mais relevante desta pesquisa para quem quer
tentar projetar o 2 de outubro é o da avaliação de como o presidente conduz o
país: 57% dos entrevistados desaprovam Bolsonaro (37% aprovam e o resto não
quis se posicionar). É um percentual muito alto, sobretudo a pouco mais de 50
dias das eleições.
Para a campanha de Lula, o resultado levou algum alívio. Há
um temor real a respeito do quanto o pacote de bondades do governo vai retirar
votos do ex-presidente. Ninguém aposta um percentual, mas é unânime que o
tabuleiro deve ser mexido por estas medidas. Mas, a julgar pelo Ipec, ainda não
foi agora.
Os outros candidatos somados não chegam nem a um terço das
intenções de voto do segundo colocado. A menos de 50 dias para o 2 de outubro,
Ciro Gomes (PDT) mostra alguma resiliência com seus 6%. Mas é um percentual que
denota alguma falta de fôlego para empolgar o eleitor. Sua luta agora passa a
ser manter-se onde está para não morrer na praia antes de setembro chegar.
Simone Tebet (MDB) está em situação parecida, embora muito
mais atrás, com magros 2%. Sua candidatura conta com o apoio de alguns grandes
empresários e executivos do país, tem uma equipe de alguns abnegados e
estrelados nomes da área econômica, mas a população e o seu próprio partido a
ignoram.
O fato é que a campanha eleitoral começa oficialmente nesta
terça-feira. E ela parte com as certezas que, desde sempre, todos têm desta
corrida presidencial: a disputa está polarizada, mas com Lula (44%) à frente de
Bolsonaro (32%).