Segundo equipe de Cambridge, campanhas de saúde se concentram nos sintomas errados, o que atrapalha o diagnóstico de homens em estágio inicial e curável da doença
Por Giulia Vidale — São Paulo
Especialistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido,
alertaram que muitos casos de câncer de próstata estão sendo detectados tarde
demais. Eles creditam isso ao fato de campanhas e diretrizes de saúde se
concentrarem em associar a doença à presença de sintomas urinários. Em artigo
publicado na revista científica BMC Medicine, os pesquisadores afirmam que isso
não apenas é inútil como está equivocado e dificulta a detecção de casos
iniciais e tratáveis de câncer de próstata.
“Quando a maioria das
pessoas pensa nos sintomas do câncer de próstata, elas pensam em problemas com
xixi ou necessidade de fazer xixi com mais frequência, principalmente durante a
noite. Essa percepção errônea durou décadas, apesar de muito pouca evidência, e
está potencialmente nos impedindo de detectar casos em um estágio inicial”,
disse , Vincent Gnanapragasam, professor de urologia da Universidade de
Cambridge e consultor honorário de urologista do Hospital Addenbrooke. em
comunicado.
O médico Alfredo Canalini, presidente da Sociedade Brasileira
de Urologia (SBU), explica que, em geral, problemas urinários são causados pelo
aumento benigno da próstata, que é um processo que ocorre naturalmente no
organismo masculino, à medida que os homens envelhecem. Segundo ele, em 40% dos
casos de aumento benigno da próstata há obstrução da passagem da urina.
Por outro lado, os tumores malignos são assintomáticos em
estágio inicial e poucas pessoas sabem disso. Um estudo anterior descobriu que
86% do público associava o câncer de próstata a sintomas, mas apenas 1% sabia
que poderia ser assintomático.
Além disso, estudos indicam que, em casos de câncer, a
próstata tende a ser até menor que o normal. O estudo PROTECT, feito no Reino
Unido, chegou a dizer que a falta de sintomas urinários pode, de fato, ser um
indicador de maior probabilidade de malignidade.
O câncer não pode ter sua base diagnóstica nesse tipo de
sintoma. Quando o diagnóstico da doença é feito baseado em algum sintoma, há
90% de probabilidade de já estar em fase avançada. Por isso, é necessário que
os homens, em especial aqueles de risco, façam exames para o diagnóstico
precoce do câncer de próstata — afirma Canalini.
Afrodescendentes, histórico familiar (parentes e 1º grau com
a doença) e obesidade são os principais fatores de risco para a doença. A
avaliação da próstata é baseada em dois exames iniciais: o toque retal, onde o
médico consegue avaliar se existe algum nódulo de consistência mais endurecida
na próstata, e o exame de PSA. Esse é um exame de sangue que faz a dosagem da
proteína antígeno prostático específico (PSA), que é produzida apenas pela
próstata.
A SBU recomenda que homens do grupo de risco façam consultas
periódicos e realizem anualmente o exame de PSA, a partir dos 45 anos de idade.
Para a população em geral, a recomendação é a partir dos 50 anos.
O diagnóstico precoce significa aumento da probabilidade de
cura, que chega a 80% nesses casos — pontua o presidente da SBU.
O homem tem que perder o medo. Há um hábito nos homens de só
procurarem médico quando sentem algo. Isso, na maioria das vezes, dificulta o
diagnóstico precoce da doença. Eles precisa, encarar o cuidado com a saúde de
maneira mais séria — complementa Canalini.
Canalini ressalta que quando o câncer de próstata apresenta
sintomas, a doença já está avançada. Mesmo que sejam sintomas urinários
semelhantes aos do crescimento benigno da próstata, como dificuldade de urinar
e necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite. Segundo
informações do Instituto Nacional do Câncer (Inca), outros sintomas sugestivos
da doença incluem demora em começar ou terminar de urinar, sangue na urina e diminuição
do jato de urina.
Nessa fase, também pode haver a presença de sintomas
decorrentes do acometimento de outros órgãos, como dor óssea, infecção
generalizada e insuficiência renal.
“Precisamos enfatizar que o câncer de próstata pode ser uma
doença silenciosa ou assintomática, principalmente em seus estágios curáveis.
Esperar pelos sintomas urinários pode significar perder oportunidades de pegar
a doença quando for tratável", alerta Gnanapragasam.