Despacho foi dado em ação apresentada pelo partido Rede Sustentabilidade, que vê uso eleitoreiro do presidente
Por André de Souza — Brasília
A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF),
deu cinco dias para o presidente Jair Bolsonaro explicar mudanças no desfile de
Sete de Setembro no Rio de Janeiro. O despacho foi dado em ação apresentada
pelo partido Rede Sustentabilidade, que vê uso eleitoreiro de Bolsonaro.
Cármen também determinou que, após Bolsonaro, a
Advocacia-Geral da União (AGU) e a Procuradoria-Geral da República (PGR) se
manifestem em três dias. Depois de receber essas informações, ela vai analisar
se dá uma decisão para atender ou rejeitar o pedido feito pelo partido para
impedir as mudanças.
'Eu dirijo a nação para o lado que os senhores desejarem',
diz Bolsonaro a pastores. Presidednte se encontra com lideranças evangélicas e
chorou ao relembrar da facada na campanha de 2018
Bolsonaro passeia de jet-ski com sua filha Laura no litoral
de Santa Catarina, em dezembro de 2021. O presidente foi alvo de críticas por
curtir dias de folga enquanto a tragédia das chuvas deixava
Em discurso na convenção do Republicanos que lançou a candidatura
de seu ex-ministro Tarcísio de Freitas ao governo de São Paulo no último
sábado, Bolsonaro afirmou que deve participar do desfile no Rio e que haveria
uma inovação: o evento seria em Copacabana. A Parada Militar do 7 de Setembro
na capital fluminense tradicionalmente ocorre no Centro da cidade, na Avenida
Presidente Vargas.
Ministro do STF: Sete de Setembro pode mostrar o 'tamanho do
fascismo no Brasil', diz Barroso
O partido Rede Sustentabilidade pediu, então, uma liminar ao
STF contra "qualquer mudança no planejamento e na execução dos atos de
comemoração ao bicentenário da independência no Rio de Janeiro, devendo o
desfile ser mantido na locação originária e historicamente planejada e
utilizada pelas Forças Armadas, a Avenida Presidente Vargas, de modo a prevenir
sua indevida e abusiva exploração eleitoral."
A agremiação política ainda argumentou: "A inopinada mudança não tem razão técnica para ocorrer. Também não possui razão nas comemorações especiais do bicentenário da data festiva. A mudança tem razão evidente nas vontades político-eleitorais de Jair Bolsonaro, que pretende associar sua candidatura ao apoio institucional das Forças Armadas, bem como vender a ideia de que possui amplo apoio popular, divulgando o evento como apoio à sua reeleição."
'Desfile cívico-militar': Bolsonaro quer PM, bombeiros e
estudantes de colégios militares no 7 de Setembro no Rio
No início da semana, em entrevista para a rádio Guaíba,
Bolsonaro deu detalhes de suas intenções para o Sete de Setembro. Segundo o presidente,
a ideia é reunir a PM, bombeiros e estudantes de colégios militares no evento:
A gente vai pedir ao
pessoal que botar carro de som, vai ter muita gente em Copacabana, que não use
seu carro de som durante aí o desfile, que deve durar em torno de, no máximo
1h. É tropa das Forças Armadas, Marinha, Exército e Aeronáutica. Polícia
Militar, Corpo de Bombeiros Militar. Academia Militar das Agulhas Negras deve
ter um efetivo de um ano desfilando. Colégio militar. Algumas escolas civis lá
do Rio de Janeiro — enumerou.
No lançamento de candidatura: Bolsonaro ataca STF e convoca
para protestos no 7 de setembro
Como mostrou a colunista Malu Gaspar, o anúncio de Bolsonaro surpreendeu e preocupou os organizadores da parada no Rio de Janeiro, já que há dúvidas no Comando Militar do Leste sobre a viabilidade de transferir o desfile. Também no início da semana, ao ser perguntado se haverá desfile em Copacabana no 7 de Setembro, o CML se limitou a informar que as comemorações "são programadas e organizadas pelos governos municipais e/ou estaduais". E que "o Exército Brasileiro participa auxiliando na organização e realizando os desfiles militares nas diferentes guarnições (cidades) em que está presente".
Já o procurador-geral da República, Augusto Aras, disse na
última segunda-feira que "está atento a qualquer risco" no 7 de
Setembro e também durante as eleições, "atuando na defesa da democracia e
das instituições". A fala ocorreu durante a sessão de reabertura dos
trabalhos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE):
Dia da Independência: Discurso de Bolsonaro na convenção
mobiliza bolsonaristas no Telegram para atos no 7 de setembro
Neste ano, temos nos
dedicado a esse mister de forma especial. Seja no 7 de setembro, quando
celebraremos o bicentenário da nossa República, seja no transcorrer do processo
eleitoral já em curso. Estamos vigilantes e, repito, atuando na defesa da nossa
democracia e de nossas instituições — ressaltou.