Manifesto organizado pela Faculdade de Direito da USP se aproxima de 900 mil assinaturas; leitura oficial do documento será feita nesta quinta-feira (11), no Centro de SP.
Representantes da música, das artes cênicas e do cinema e televisão fazem leitura da carta da USP em defesa da democracia brasileira. — Foto: Reprodução
42 artistas como Fernanda Montenegro, Caetano Veloso, Chico Buarque, Marisa Monte, Anitta, Maria Bethânia, Antonio Fagundes, Milton Nascimento, Djavan, Dira Paes, Duda Beat, Wagner Moura e Juliette divulgaram nesta quarta-feira (10) um vídeo em que aparecem fazendo a leitura da "Carta às Brasileiras e aos Brasileiros pela Democracia".
O manifesto, organizado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), se aproxima de 900 mil assinaturas e será lido em ato organização por juristas e movimentos sociais na própria Universidade São Francisco, no Centro de SP, nesta quinta (11).
O texto do manifesto defende o Estado Democrático de Direito, as urnas eletrônicas e o resultado das eleições de outubro.
A carta foi lançada depois de seguidos ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) justamente contra as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral brasileiro.
A "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!" e a lista com os primeiros signatários foram divulgadas em 26 de julho no site da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
Veja a lista dos artistas que aparecem no vídeo e aderiram ao manifesto:
Fernanda Montenegro
Marisa Monte
Anitta
Antonio Pitanga
Paulo Betti
Camila Pitanga
Luísa Sonza
Bruno Mazzeo
Juliette
Linn da Quebrada
Duda Beat
Seu Jorge
Marcos Palmeira
Christiane Torloni
Fábio Assunção
Lázaro Ramos
Alinne Moraes
Milton Nascimento
Alice Wegmann
Djavan
Dan Ferreira
Rogério Flausino
Paula Lima
Daniela Mercury
Enrique Díaz
Dira Paes
Ícaro Silva
Txai Suruí
José de Abreu
Caetano Veloso
Cláudia Abreu
Maria Ribeiro
Maria Gadu
Nando Reis
Ernesto Piccolo
Wagner Moura
Manu Gavassi
Bk
Gal Costa
Antônio Fagundes
Chico Buarque
Maria Bethânia
Ataques hackers
Fachada da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, no Centro de São Paulo, anuncia data para leitura do manifesta em Defesa da Democracia brasileira. — Foto: Divulgação/USP
A carta em defesa da democracia e do processo eleitoral recebeu quase 20 mil tentativas de fraude desde que foi lançada, segundo o procurador-geral do Ministério Público de Contas de São Paulo, Thiago Pinheiro Lima, um dos organizadores da iniciativa.
Na madrugada desta quarta (8), segundo Pinheiro Lima, um hacker tentou derrubar o site ao criar um robô que provocava 8 milhões de acessos simultâneos no site “Estado de Direito”.
Os organizadores afirmam que o hacker foi localizado de IP (registro do computador) da Rússia, mas a origem provavelmente é usada para esconder a identidade do responsável.
Este último ataque ocorreu às vésperas do ato em defesa da democracia. O conteúdo da carta será apresentado na sede da Faculdade de Direito da USP, no Centro de São Paulo, em evento na manhã desta quinta (11).
A data comemora o aniversário da criação dos cursos de direito no país e coincide com a leitura de manifesto no mesmo local, em 1977, para denunciar a ditadura militar, que subtraiu direitos e matou opositores do regime.
Mecanismos de segurança
Desde que foi lançada, a plataforma é alvo de ataques. De acordo com Pinheiro Lima, as tentativas de ataque já eram esperadas, e mecanismos de segurança que funcionam 24 horas por dia vêm conseguindo impedi-las de acessar o sistema.
Além disso, os organizadores estão conseguindo rastrear as origens dos ataques e novas providências serão tomadas.
O documento já soma mais de 800 mil assinaturas e foi endossado por oito candidatos à Presidência, ex-presidentes, ex-ministros do Supremo Tribunal Federal, além de banqueiros, atletas e inúmeros artistas. Os nomes podem ser conferidos pelo sistema de busca da página.
Ainda de acordo com os responsáveis pela carta, levantamento por profissões aponta que ela já foi assinada por:
727 porteiros
8.973 desempregados
5.045 enfermeiros
4.217 motoristas
6.619 policiais
519 delegados de polícia
28.868 engenheiros
15 mil médicos
4231 magistrados
A "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!" foi lançada depois de seguidos ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral brasileiro. Entenda mais abaixo.
Uma versão em inglês do documento deve ser lançada pelos organizadores, já que os Estados Unidos, depois do Brasil, são o segundo país com o maior número de acessos, seguido por Portugal, Reino Unido e Alemanha.
Durante evento em São Paulo na segunda, o presidente Jair Bolsonaro disse que não vai assinar e criticou o documento.
Carta em defesa da democracia
A carta foi lançada depois de seguidos ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral brasileiro.
A "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!" e a lista com os nomes foram divulgadas no dia 26 de julho no site da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
Além de personalidades como Chico Buarque, Roberto Setúbal, Ellen Gracie e Luiz Gonzaga Beluzzo, o movimento recebeu um engajamento de nomes como o da escritora e presidente interina da ABL Nélida Piñon, da atriz e imortal Fernanda Montenegro, dos ex-ministros do STF Joaquim Barbosa, Francisco Resek e Nelson Jobim, dos cantores Gal Costa, Zélia Duncan, Maria Bethânia e Frejat, dos atores Antonio Calloni e Bruno Gagliasso, do cineasta Fernando Meirelles, dos escritores Luís Fernando Veríssimo, Martha Medeiros e Djamila Ribeiro, dos historiadores Eduardo Bueno e Lilia Schwarcz, entre outros.
No total, 12 ex-ministros do STF assinaram o documento.
A carta diz que recentes "ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o Estado Democrático de Direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira".
"Nos próximos dias, em meio a estes desafios, teremos o início da campanha eleitoral para a renovação dos mandatos dos legislativos e executivos estaduais e federais. Neste momento, deveríamos ter o ápice da democracia com a disputa entre os vários projetos políticos visando convencer o eleitorado da melhor proposta para os rumos do país nos próximos anos."
"Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições", diz trecho (leia a carta completa abaixo).
Dentre os empresários estão Walter Schalka, presidente da Suzano; Roberto Setúbal, ex-presidente do Banco Itaú; Natália Dias, CEO da Standard Bank; Pedro Moreira Salles, presidente do conselho de administração do Itaú Unibanco; Pérsio Arida, ex-presidente do BNDES e do Banco Central; Tarcila Ursini, conselheira de administração da EB Capital, entre outros.
Também aparecem entre as assinaturas os artistas Arnaldo Antunes, as atrizes Debora Bloch e Alessandra Negrini, os ex-jogadores de futebol Walter Casagrande e Raí, o cineasta João Moreira Salles, o escritor Paulo Coelho e padre Júlio Lancellotti, que atua na defesa da população de rua em São Paulo.
As pessoas interessadas em assinar o documento poderão fazê-lo online pelos sites da Faculdade de Direito da USP, da Associação de Juízes Federais, Associação do Ministério Público e do Grupo Prerrogativas.
Celso de Mello, ministro aposentado e ex-presidente do STF, afirmou à TV Globo, sobre o momento político atual, que "os diversos pronunciamentos de Bolsonaro, especialmente aqueles que injustamente ofendem e atacam o Supremo Tribunal Federal, o Tribunal Superior Eleitoral e o sistema eleitoral, são suficientes para revelar a figura de um político sem qualquer noção dos limites que o regime democrático e o dogma constitucional da separação de Poderes impõem a quem, como ele, exerce as altas funções de presidente da República".
Segundo Mello, "torna-se vital reconhecer que o regime democrático, analisado na perspectiva das delicadas relações entre o poder e o direito, não terá condições de subsistir, quando as instituições políticas do Estado falharem em seu dever de respeitar a Constituição e as leis da República, pois, sob esse sistema de governo, não poderá jamais prevalecer a vontade de uma só pessoa, de um só estamento, de um só grupo ou, ainda, de uma só instituição".