Poços abertos pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PL)
foram abandonados sem a conclusão das obras no Nordeste. Resultado? A população
enfrenta a falta de acesso à água potável na região.
Reportagem divulgada nesta semana pelo jornal O
Estado de S. Paulo analisou contratos do governo Bolsonaro que somam R$ 1,2
bilhão para a construção de poços no sertão —programa chamado “força-tarefa das
águas”.
Os documentos revelam irregularidades em pregões milionários
realizados em menos de dez minutos e a reserva de dinheiro para abertura de
novos poços sem que outros sejam concluídos.
A situação piora para aqueles moradores que vivem na região
mais alta. De acordo com o jornal, a água retirada do poço é salobra, com gosto
mineral forte e desagradável, levemente salgado. Por outro lado, a água da
nascente, considerada “boa”, não tem gosto, mas é turva de terra.
Ciro Nogueira (PP-PI), ministro da Casa Civil, anunciou no
ano passado que a construção de poços seria uma marca do governo Bolsonaro no
Nordeste.
“Eles abriram [poços], mas não encanaram a água para nós. A
gente fica triste, porque tem água doce perto, mas não pode usar.”
A força-tarefa de abertura de poços envolveu três órgãos
controlados: a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São
Francisco e do Parnaíba), o Dnocs e a Funasa (Fundação Nacional de Saúde).
Bolsonaro ignora a realidade. Neste ano, o mandatário chegou
a participar da entrega de poços na região, e no discurso durante lançamento de
sua candidatura ao Planalto, em julho, ele disse:
“Água em grande parte do Nordeste é uma realidade”, disse.
“Também o nosso Exército, com a Codevasf, fura dezenas de poços todos os meses,
levando dignidade a essas pessoas. Eu estou mostrando o que nós fizemos, o que
pretendemos seguir fazendo.”
Bolsonaro e o ministro Ciro Nogueira não responderam aos
questionamentos da reportagem.
Já a Codevasf disse que seus pregões são abertos à livre
concorrência e à participação de empresas de todo o país, informou o jornal
Estadão.
À imprensa, o Dnocs
afirmou que "as perfurações de poços são realizadas por Termo de
Cooperação firmado junto aos municípios. Cabe ao Dnocs entregar a perfuratriz
ao ente municipal, que é o responsável pela execução dos serviços".
Já a Funasa, segundo o Estadão, informou que não emitiu
nenhuma ordem de serviço e ainda não pagou nada para as empresas. Além disso,
destacou que houve lisura e transparência no processo de seleção aberto para
“concluir obras inacabadas realizadas por diversos órgãos estaduais, municipais
e federais, buscando dar funcionalidade e acesso a água à população mais
carente”, e reforçou que não dará andamento às contratações até que uma
denúncia relacionada ao caso seja apreciada pelo TCU (Tribunal de Contas da
União).