A visita da primeira-dama Michelle Bolsonaro a uma igreja
batista em Belo Horizonte, no dia 7 deste mês, não agradou à Frente
Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns. A entidade, que reúne religiosos das
mais diversas fés e membros da sociedade civil, publicou nota de repúdio à
primeira-dama e disse estar preocupada com as declarações de Michelle.
Em um culto religioso, ao lado do presidente Jair Bolsonaro
(PL), Michelle declarou que, antes de o casal chegar ao Palácio do Planalto, o
local era "consagrado a demônios", e atualmente é "consagrado ao
Senhor".
Ela ainda declarou que o atual presidente seria Jesus, o que
é visto pela organização como crime contra a Constituição Nacional de 1988,
pois é proibida qualquer relação de dependência ou aliança de autoridades
políticas com religiões específicas.
Os religiosos declararam que as falas de Michelle repetem
"uma antiga prática excludente, beligerante e preconceituosa que, conforme
demonstrado pela história, usa a divindade para tornar o semelhante um inimigo
desumanizado, ligado a forças nefastas e que podem inclusive ser alvo de
violência de forma legitimada".
A organização destacou que tais declarações ferem o Estado
Democrático de Direito, violam a legislação eleitoral e promovem a cultura de
ódio, pois colocam em risco "a convivência pacífica entre as distintas
tradições religiosas e o respeito às diferentes crenças".
"O resultado dessas declarações não pode ser outro senão
fomentar a desagregação da sociedade através do medo e colocar em risco a luta
internacional de mais de um século por diálogo e cooperação inter-religiosa e
ecuménica. Com este discurso de ódio em nossa pátria, os casos de violência e
intolerância religiosa aumentaram de forma vertiginosa nos últimos 4
anos", afirmou a nota.
A Frente ainda pontuou que o papel social da religião é
apoiar a sociedade pela defesa do bem comum, sabendo respeitar e apreciar a
diferença.
"Pedimos que a Primeira Dama se retrate imediatamente,
dentro dos princípios cristãos de amor ao próximo que afirma professar e aja em
conformidade com as leis que regem nosso país, a fim de que seja
verdadeiramente uma Pátria para todos os Brasileiros e Brasileiras,
indistintamente de opção religiosa ou política", declarou a nota.