É inconcebível transformar forças armadas em uma espécie de VAR eleitoral para validar resultados
Bolsonaro já tentou tudo. Raspou o caixa do Tesouro (dinheiro
do povo) com medidas abertamente eleitoreiras e com prazo de validade –
dezembro. Nem sequer esconde o lado em que está. Entre suas últimas medidas,
praticamente liquidou a Farmácia Popular e o Minha Casa, Minha Vida, acena com
a anistia aos desmatadores e turbina sem parar o orçamento secreto para
acomodar parlamentares ávidos pela própria reeleição. Para não falar de todo o
resto destes quatro anos.
Os efeitos foram nulos. Sem respaldo no Brasil, Bolsonaro
resolveu ir ao exterior. A tournée pela Grã-Bretanha apenas acrescentou novos
vexames. Num momento fúnebre, riu que nem uma hiena ao cumprimentar o novo rei,
Charles III. Transformou a embaixada brasileira em palanque eleitoral. Na ONU,
em Nova York, fez o que sabe fazer de melhor: mentiu, mentiu e mentiu.
Resta uma derradeira
bala na sua metralhadora antipovo. As Forças Armadas.
Incapaz de questionar a eficácia das urnas eletrônicas,
Bolsonaro transformou o pessoal verde oliva em “fiadores” do pleito. Com o aval
das chamadas “instituições”, lotou as repartições eleitorais de gente fardada
para atestar a lisura dos votos depositados em 2 de outubro. O Tribunal
Superior Eleitoral acoelhou-se e cedeu vários privilégios ao pessoal de coturno
para vigiar o pleito.
Por si só, trata-se de um escândalo. Numa democracia, mesmo
de fachada, eleições são assunto civil. É inconcebível transformar militares em
uma espécie de VAR eleitoral para validar resultados. Mas o TSE e o STF vêm
aceitando o papel. Calam-se diante da sucessão infindável dos crimes eleitorais
e outros tantos cometidos por Bolsonaro. De fato, engolem que a caserna seja a
última palavra sobre um evento da esfera civil.
Da maneira como estão as coisas, qualquer militar pode
sabotar o processo. Equipamentos eletrônicos sempre estão sujeitos a uma pane
imprevisível (quantas vezes vc já não foi obrigado a dar um reset no seu
micro?) Nem precisa de hacker.
Qualquer recruta mal-intencionado (leia-se: bolsonarista) é
capaz de desligar um fio, inserir um comando na “apuração paralela” e
falsificar dados apenas para melar as eleições; argumentar que os números não
batem e assim instalar um tumulto de consequências imprevisíveis.
Bolsonaro é mestre nisso. Planejou bombardear quartéis e
explodir adutoras quando estava no Exército. Foi expulso “à francesa”. Usou
arapongas da Abin para se infiltrar na Polícia Federal. Não há limites para
Bolsonaro. Seu staff militar é composto, em sua maioria, por gente que
horrorizou o Haiti em nome da paz, a começar de Augusto Heleno. Até um
traficante de drogas fardado se infiltrou na comitiva presidencial em viagem à
Espanha.
O atual ministro da Defesa é um bolsonarista de quatro
costados. Não poupará, como não tem poupado, esforços para desqualificar as
eleições.