Comentários de cunho transfóbico foram feitos em reunião do Conselho Superior do Ministério Público da Paraíba transmitida ao vivo pelo YouTube
Corregedor-geral e procuradores do MP da Paraíba criticaram recomendação da Promotoria de Justiça sobre banheiros para alunos transgênero (foto: YouTube/Reprodução)Procuradores de Justiça fizeram comentários transfóbicos e
homofóbicos durante reunião do Conselho Superior do Ministério Público do
Estado da Paraíba (CSMP), em sessão ordinária transmitida ao vivo pelo YouTube
e sugeriram censura à imprensa ao Ministério Público do Estado da Paraíba ao
propor "maior triagem de conteúdo" publicado.
Pouco antes da metade da sessão, que durou 53 minutos, o
procurador de Justiça Francisco Sagres, ao criticar uma recomendação expedida
pela Promotoria de Justiça de Itabaiana (PB) para que alunos transgênero de
escolas locais possam utilizar os banheiros do gênero com o qual se
identificam, criticou a decisão e, ao se referir às crianças transgênero, usou
o termo incorreto, chamando elas de "homossexuais".
"Já houve vários casos de, até, estupro dentro de
banheiro por criança desse tipo. [...] Eu não permitirei, de forma alguma, que
uma neta minha entrasse num banheiro que tivesse um marmanjo utilizando. [...]
O fato de dizer que você é homossexual não deveria dizer que você é fêmea, não.
Mude de sexo", disse o procurador.
Mesa com o símbolo do MPPB ao centro. Sentados à mesa, estão
Procuradores de Justiça do MPPB e o Corregedor-Geral
Corregedor-geral e procuradores do MP da Paraíba criticaram
recomendação da Promotoria de Justiça sobre banheiros para alunos transgênero
Sagres disse que não se considera homofóbico, mas que não
concorda com a recomendação e que esta não deveria ter sido publicada no site
do MPPB. "Isso é um modismo que desagrega a família. E eu não sou
homofóbico, não. Eu sou uma pessoa normal, [...] mas achei uma coisa agressiva
e repudiada por toda a sociedade paraibana. Só telefonema, recebi uns 18, e
foram agredindo o MP, e não a promotora. [...] Como pode uma pessoa falar e
[isso] ser publicizado como se fosse todos nós [a dizermos]? Tem que haver
freios na publicação dessas coisas", completou.
Em seguida, José Roseno 'louva' as falas de Francisco Sagres
e enfatiza uma necessidade de se controlar o que deve, ou não, ser publicado
pela imprensa do MPPB. "Eu acho que nós, que fazemos a Instituição,
devemos não coibir que promotor se faça isso, mas ter um freio com relação a
isso. Eu, pelo menos, não tinha visto essa publicação, mas concordo com o
colega Sagres em todos os seus termos", afirma ele.
'Deveria haver uma
triagem maior'
A sessão continua com o corregedor-geral do MPPB, que apoia
uma triagem dos conteúdos a serem divulgados no site do órgão com o argumento
de que nem todas as publicações representam o que o Ministério Público pensa.
"Deveria haver uma triagem maior nas publicações para que o MPPB não
angariasse antipatia diante de algumas situações, porque o respaldo popular não
seria aquilo que nós esperamos", declarou.
O procurador Valberto Lira fez ainda um comentário irônico
sobre racismo e capacitismo manicomial ao pontuar que a divisão de Promotorias
está confusa. "Eu ia até cometer um crime aqui, ou melhor, dois crimes, e
dizer que nós estamos vivendo o samba do crioulo doido, mas hoje nós não
podemos mais usar esses termos. O nome dessa música, hoje, para ninguém cometer
crimes, deveria ser o samba do afrodescendente com sofrimento psíquico",
disse ele, recebido com risadas de membros do conselho.
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