Terceira aplicação era indicada apenas aos maiores de 12 anos; nova dose deve ser feita ao menos quatro meses após a última (Por Bernardo Yoneshigue e Giulia Vidale)
O Ministério da Saúde passou a orientar uma dose de reforço
da vacina contra a Covid-19 para crianças entre 5 a 11 anos. Até então, a pasta
indicava a terceira aplicação apenas para aqueles a partir de 12 anos. A nova
recomendação faz parte de uma nota técnica assinada pela coordenação-geral do
Programa Nacional de Imunizações (PNI) no dia 30 de dezembro.
De acordo com o documento, o reforço deve ser feito com o
imunizante pediátrico da Pfizer tanto para aqueles que completaram o esquema
inicial, de duas doses, com a vacina da fabricante, como também para os que
receberam as aplicações da CoronaVac. A terceira dose pode ser administrada no
período de ao menos quatro meses após a segunda.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já havia
autorizado a ampliação do reforço para as crianças a partir de 5 anos no início
de dezembro. Em novembro, a Câmara Técnica de Assessoramento em Imunizações do
ministério (CTAI) também havia dado parecer favorável à aplicação, disponível
desde maio do ano passado nos Estados Unidos e adotada em diversos países, como
Argentina e Uruguai.
Na nova decisão, o Ministério da Saúde cita a diminuição dos
níveis de anticorpos após o esquema primário de duas doses e afirma que o
reforço pode não apenas recuperá-los, como atingir patamares mais altos de
proteção.
Muitas dessas crianças
se vacinaram há cerca de um ano. Sabemos que imunidade cai ao longo do tempo,
para qualquer faixa etária. Está mais do que na hora de fazer o reforço vacinal
para restabelecer a imunidade desse público para deixá-los mais protegidos —
diz o pediatra e infectologista Filipe da Veiga.
O médico pediatra e presidente da Sociedade Brasileira de
Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, ressalta o impacto da Covid-19 em crianças.
Claro que idosos são
mais afetados, mas temos hospitalizações em todas as faixas etárias. E a vacina
pode não evitar a infecção, mas vai prevenir a hospitalização, a morte, a Covid
longa e complicações como a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica,
que tem sido associada à Covid — avalia Cunha.
A pasta menciona estudos conduzidos pela Pfizer que
“demonstraram um aumento nos títulos de neutralização da variante Ômicron e da
cepa selvagem (variante original) após uma dose de reforço”. Essa elevação
chega a ser de 36 vezes contra a Ômicron, diz a nota, dados que “reforçam a
função potencial de uma terceira dose da vacina em manter altos níveis de
proteção contra o vírus nessa faixa etária”.
O ministério ressalta ainda que os testes clínicos e as
experiências de vida real em outros países comprovaram a segurança da vacina, e
destaca a importância de se ampliar a cobertura com a proteção entre os
pequenos para prevenir desfechos graves da Covid-19. Segundo a nota técnica,
apenas 49,57% das 20 milhões de crianças estimadas entre 5 a 11 anos receberam
as duas doses.
Sabemos que a
cobertura para a faixa etária ainda está baixa, então precisamos estimular a
imunização com o esquema primário de duas doses dessas crianças e com o
reforço, assim como a imunização dos mais novos, a partir de 6 meses. No
momento em que vemos um aumento importante no número de casos, e que não
sabemos as consequências da situação sanitária da China, que está com milhões
de novos casos diários, o que é um potencial para o surgimento de novas
variantes, precisamos estar protegidos ao máximo — orienta o presidente da
SBIm.
Para Veiga, um dos
motivos da baixa cobertura vacinal nessa faixa etária é o medo dos pais.
A maioria dos pais evita vacinar seus filhos por medo de
efeitos colaterais e não porque são contra a vacinação. Mas já estamos vendo
algumas famílias que não vacinaram seus filhos no ano passado, procurando o
imunizante. Talvez isso esteja acontecendo porque elas se conscientizaram de
que o vírus não vai embora pontua o
infectologista pediátrico.
Vale lembrar que mesmo as crianças que receberam a primeira
dose, mas não completaram o esquema com a segunda, ainda podem fazer isso.
Basta procurar um posto de saúde. A única recomendação dos especialistas é
aguardar um mês para tomar a vacina - seja alguma dose do esquema inicial ou o
reforço - se a criança teve Covid-19.
Questionado, o Ministério da Saúde não respondeu se existem
doses disponíveis para a vacinação de reforço nas crianças de 5 a 11 anos de
todo o país, nem quanto terá início a estratégia. Segundo especialistas, as
equipes técnicas estão se informando sobre estoques de vacinas.
Dose bivalente
A dose de reforço deve ser feita com a vacina original da
Pfizer, porém há um pedido da farmacêutica em análise na Anvisa desde o dia 29
de novembro para que esse reforço possa ser realizado com a dose atualizada,
como é nos EUA. Trata-se do imunizante bivalente, que conta com uma parte da
variante original do novo coronavírus, descoberta em 2019, e outra da variante
Ômicron, predominante no mundo há cerca de um ano, o que amplia a proteção.
Proteção ampliada contra a Covid-19: Tudo o que você precisa
saber sobre a chegada das novas vacinas e a campanha de 2023
No entanto, além de a agência ainda não ter dado um parecer
em relação ao pedido, o ministério também não anunciou para quais públicos
serão direcionadas as vacinas bivalentes no Brasil - aprovadas até então para
todos a partir de 12 anos pelo órgão sanitário.
Por isso, não devemos
esperar a bivalente para as crianças, e sim fazer o reforço assim que
disponível. As vacinas atuais conferem uma proteção boa contra desfechos
graves. E as bivalentes nem foram aprovadas para crianças, nem temos a previsão
para aplicação em adultos. Não podemos esperar essas definições, se temos a
possibilidade de fazer o reforço agora é para fazer afirma Cunha.
O ideal, segundo Veiga, seria iniciar a aplicação da dose de
reforço nas crianças antes do início do ano letivo.
A volta às aulas é uma turbulência de doenças respiratórias.
O ideal seria restabelecer os anticorpos antes desse período para reduzir o
risco recomenda o médico.
As novas doses começaram a chegar no país em dezembro e,
segundo cronograma da Pfizer, serão aproximadamente 36,3 milhões de unidades
entregues até o fim de janeiro. Em países como Estados Unidos e Chile, a
bivalente é orientada a toda a população elegível como um novo reforço, porém
especialistas acreditam que o Brasil deve iniciar a campanha com grupos
prioritários, como idosos e imunossuprimidos.
Cobertura com reforço
em baixa no Brasil
Embora as autoridades destaquem os benefícios da terceira
dose para garantir a proteção contra a Covid-19, aplicação considerada
indispensável no contexto da variante Ômicron segundo os especialistas, a
cobertura para os grupos que já eram elegíveis segue baixa no Brasil.
De acordo com um comunicado do Ministério da Saúde desta
quarta-feira, baseado em dados da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), cerca
de 69 milhões de brasileiros acima de 12 anos estão com o reforço atrasado.
Segundo o consórcio de veículos de imprensa, hoje o país tem apenas metade da
população geral com as três aplicações.
Além disso, o ministério afirma que mais de 30 milhões de
brasileiros no público acima de 40 anos, elegível para quatro doses, não
recebeu o segundo reforço. A pasta destaca ainda que 19 milhões de pessoas nem
chegaram a completar o esquema primário com as duas injeções.