Apesar das desconfianças levantadas no período eleitoral, o Ibovespa acumula alta de 3,37% no mês, enquanto dólar caiu 4,61% no período (Luís Felipe Granado)
(Foto: Reprodução/Youtube) Lula termina 1º mês monitorado pelo mercado"O mercado desconfia ", "O mercado está apreensivo", "O mercado espera anúncios". Essas frases foram comuns no noticiário durante o período eleitoral e se intensificaram após vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Apesar do temor anunciado, a Bolsa de Valores caminha bem no primeiro mês do ano e o dólar não disparou, como previam alguns analistas.
Em janeiro, o Ibovespa subiu 3,37%, perto da média de 2022, que registou alta de 4,7% em 12 meses, na marca de 109.734 pontos.
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Quanto à taxa de câmbio, algumas das previsões pessimistas não deram sinais neste primeiro mês, e quem comprou dólar após a posse do presidente Lula se deu levemente mal, tendo prejuízo de 4,61%.
O Boletim Focus, relatório produzido por mais de cem economistas e compilado pelo Banco Central, prevê que a moeda americana fechará 2023 cotada a R$ 5,20. Hoje, a moeda é vendida a R$ 5,08.
O que explica mudança?
Segundo Anderson Domingos, professor de gestão/inovação na pós FGV e Consultor de Investimentos na Favos Invest, uma série de fatores influenciaram na alta do índice Bovespa, a começar pelo preço dos ativos, que estão depreciados no mercado dolarizado. Além disso, foi um bom mês para as mineradoras, que observaram alta na demanda internacional, principalmente da China.
"Esse fator fez com que o fluxo de investimentos internacionais, o fluxo cambial, aumentasse naturalmente, mesmo sem influência das pessoas físicas e do governo", explica.
Nos primeiros dias após a posse, o cenário era outro. No dia 9 de dezembro, data em que Lula anunciou Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda, por exemplo, o indicador tombou 3,70%. No dia em que ele se reuniu com banqueiros a pedido de Lula, o Ibovespa registrou queda de 2,73% e o dólar saltou 1,85%, evidenciando receio do setor financeiro com o nome.
Aos poucos, no entanto, o ministro diminuiu a desconfiança e segue conquistando "na lábia" os investidores.
"Apesar de o nome do ministro ser dissonante do que o mercado pensa, que é responsabilidade fiscal e controle dos gastos, as suas falas estão sendo em linha com a austeridade e com o controle dos gastos públicos", diz Domingos.
Ainda é cedo para prever até onde o Ibovespa chega neste ano, mas algumas previsões são otimistas, como as dos bancos BTG Pactual e JPMorgan, que esperam a Bolsa de Valores de São Paulo operando perto dos 130 mil pontos.
No cenário altista, com recuperação robusta da China e queda do dólar após rápida reversão do ciclo de aperto monetário do Fed, o JPMorgan prevê que o índice pode alcançar até a casa dos 140 mil pontos.
O banco, no entanto, não descarta o cenário pessimista, influenciado, principalmente, pela "piora do lado fiscal, que levaria à alta da inflação e confirmaria os movimentos recentes da curva de rendimento, com elevação dos juros para 2023”, avalia o JP. O número mais pessimista é de 95 mil pontos.
Ainda no âmbito interno, as eleições para presidência da Câmara dos Deputados e do Senado são cruciais para o plano econômico do governo atual, avalia Domingos.
O professor diz ainda que o histórico de Lula dá a ele certa confiança, mas fatores externos serão desafiadores durante o mandato.
"Independentemente de questões políticas, é preciso reconhecer que os governos Lula 1 e 2 tiveram crescimento de 2.051% no Ibovespa. Isso porque focou na reindustrialização e no desenvolvimento do país, então a gente acredita que mais uma vez as commodities vão impulsionar o indicador", diz.
"A questão é que o mercado não é feito só de commodities. Como vão ser os bancos? O varejo? Tudo isso é influenciado pela recessão global, de recessão nos Estados Unidos e na Europa, guerra da Ucrânia, toda essa tensão precisa sim ser considerada", completa.