Estudo da UFMG mostrou que o consumo do grão é fator de proteção contra o excesso de peso
Feijão com arroz é uma combinação bem brasileira. Entretanto,
nos últimos anos, a população tem abandonado lentamente o hábito de comer a
leguminosa regularmente. De acordo com um estudo realizado recentemente pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), isso pode contribuir para o ganho
de peso.
Uma análise realizada com pesquisadores da Faculdade de
Medicina da UFMG, com base em dados do Sistema de Vigilância de Fatores de
Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel),
concluiu que pessoas que não consomem feijão têm um risco 10% maior de
desenvolver excesso de peso e 20% maior para obesidade. Por outro lado, o
consumo regular do alimento, em cinco ou mais dias da semana, aparece como um
fator de proteção, reduzindo em 14% o risco de excesso de peso (14%) e em 15% o
da obesidade.
Isso significa que não comer feijão pode estar associado ao
ganho de peso e a um estado nutricional insatisfatório.
Segundo a nutricionista Fernanda Serra, pesquisadora do
Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina e líder do
estudo, o feijão é um marcador da qualidade nutricional da dieta e um símbolo
da alimentação tradicional brasileira, além de ser elemento essencial para a
segurança alimentar.
Na pesquisa, foram utilizadas informações do Sistema de
Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito
Telefônico (Vigitel). A equipe comparou dados de mais de 500 mil adultos,
acompanhados entre os anos de 2009 e 2019.
A frequência de consumo de feijão foi classificada em: não
consumo (0 dias por semana), baixo consumo (uma ou duas vezes por semana),
consumo moderado (três ou quatro vezes) e consumo regular (cinco a sete vezes).
Os resultados também estimam que até 2025, o brasileiro
deixará de comer feijão de forma regular e tradicional. Na análise por sexo,
constatou-se que, desde 2022, as mulheres comem feijão menos de cinco vezes por
semana. No caso dos homens, a estimativa é de que isso passe a ocorrer em 2029.
A mudança na alimentação da população é uma preocupação para
profissionais de saúde. A substituição dos alimentos naturais ou minimamente
processados por ultraprocessados modifica o perfil alimentar da população,
trazendo uma piora na qualidade da dieta e fragilidade na cultura alimentar
brasileira.
Para Serra, a mudança de perfil alimentar se deve a
praticidade que os ultraprocessados oferecem ao dia a dia. A oscilação no preço
do feijão também possui papel fundamental na troca por alimentos prontos. Além
disso, há um sistema alimentar que influencia o perfil de consumo da população.
“Em outras palavras, o padrão alimentar dos brasileiros é
motivado por fatores externos, como propagandas publicitárias de
ultraprocessados e disponibilidade, variedade e preço dos alimentos saudáveis”,
pontua a autora.
Medidas regulatórias e fiscais para uma alimentação saudável,
assim como a taxação de ultraprocessados e a adequações na rotulagem dos
alimentos poderia ajudar a contornar essas tendência.