Nova versão do programa, com adicional de R$ 150 para crianças de zero a seis anos, tem potencial para tirar até três milhões de pessoas da extrema pobreza, indica especialista
Ana Claudia das Neves (D) e sua família em Foz do Iguaçu (PR): maior tranquilidade. Foto: Thiago Ming / SEAUD / PRAs mudanças implementadas pelo Governo Federal no Bolsa
Família têm potencial de reduzir em até 3 milhões o número de pessoas em
condição de extrema pobreza e de contribuir para ampliar a massa de renda disponível
para as famílias em 2023.
A projeção de redução da pobreza é do economista Daniel
Duque, do Ibre/FGV. Segundo informações do IBGE, o Brasil tinha 12,4 milhões de
pessoas na condição de extrema pobreza no último trimestre de 2022, com renda
de até R$ 208 mensais por pessoa do núcleo familiar. De acordo com o
pesquisador, o novo programa de transferência de renda tem potencial para mudar
esse cenário.
"Nas minhas projeções, o Bolsa Família deve tirar 3
milhões de brasileiros da pobreza, graças ao benefício de R$ 150 por criança de
zero a 6 anos", afirmou Duque, mestre em economia e pesquisador nas áreas
de desigualdade, mercado de trabalho e educação, em seu perfil no Twitter e
numa entrevista ao jornal O Globo.
O Benefício Primeira Infância começou a ser pago em março de
2023 e chegou a 8,9 milhões de crianças dessa faixa etária inscritas no
programa de transferência de renda, com um investimento adicional de R$ 1,3
bilhão. A partir de junho, haverá ainda um repasse de R$ 50 para gestantes e
para integrantes de sete a 18 anos na composição familiar.
Com a implementação dessas alterações, 21,1 milhões de
famílias passaram a receber um valor médio de R$ 670,33, o maior já registrado
na história do programa. A estimativa é de que o valor médio supere os R$ 700
em junho. Em fevereiro, eram R$ 606,91. A folha de pagamento de março superou
R$ 14 bilhões de investimento, um recorde na história do Bolsa Família.
Adicionalmente, o relatório Macro Research da XP
Investimentos, publicado em 22 de março e assinado pelos economistas Rodolfo
Margato e Tiago Sbardelotto, identifica que a previsão de massa de renda
disponível para as famílias crescerá cerca de 3,5% em 2023 na comparação com
2022.
"De acordo com nossas estimativas atualizadas, a massa
de renda real disponível às famílias crescerá cerca de 3,5%, muito acima da
projeção anterior, ao redor de 2%", indica trecho do relatório. A revisão
das estimativas, segundo os autores, foi impulsionada por fatores como
transferências de renda do Bolsa Família, elevação real do salário mínimo e
ampliação da faixa de isenção ao Imposto de Renda, todas medidas adotadas pela
atual gestão.
VIDA REAL - Um retrato dessa projeção é a dona de casa Ana
Cláudia das Neves, de 48 anos. Ela faz malabarismo para cuidar dos quatro
filhos que vivem com ela e o marido numa casa simples na periferia de Foz do
Iguaçu (PR). A principal fonte de renda da família é um benefício do INSS
destinado a um filho com transtornos mentais e o dinheiro do Bolsa Família que
priorizam para duas filhas, de um e quatro anos de idade.
As pequenas, adotadas de uma sobrinha dependente química,
exigem cuidados médicos. A mais velha nasceu prematura de sete meses, é autista
e não fala. A bebê tem bronquiolite. Para cuidar de todos, o orçamento não
fecha. Sempre fica um débito de R$ 200, R$ 300 na farmácia. A perspectiva de
ter mais R$ 300 no orçamento familiar já a autoriza a fazer planos de não mais
ficar devendo à farmácia e de comprar outros itens que as crianças precisam.
"Vai ajudar muito porque sei que não vou mais dormir
preocupada sem saber o que fazer para pagar a farmácia ou comprar uma coisa que
as meninas pedem. O Bolsa Família para mim significa isso”, disse. A prioridade
é cuidar das crianças. Se sobrar algum dinheiro, ela diz, a ideia é melhorar a
alimentação comprando uma “misturinha”.