Surucucu (RR), 11/02/2023 - GARIMPO E ACAMPAMENTO: ação coordenada do governo federal no território Yanomami encontra comunidade de povo indígena isolado (Moxihatëtë), sem nenhum contato com a sociedade. Eles vivem há apenas 15 km de um ponto de garimpo. Foto: Leo Otero
Elaborado com contribuições da equipe da Greenpeace do leste
asiático, o documento destaca que cada máquina pode custar mais de R$ 700 mil e
representa um ótimo investimento, porque faz em apenas um dia o que três
pessoas fazem em 40. Segundo a ONG, a maior frota de escavadeiras está na TI
Kayapó, que é alvo de disputas por parte de madeireiros e da siderurgia.
Em 35 anos, a mineração ilegal cresceu 1.217% em terras
indígenas da Amazônia Legal, revela estudo do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe) e da Universidade do Sul do Alabama, dos Estados Unidos.
Especialistas apontam constantemente a relação entre a
atividade do setor mineral e o desmatamento, e os números confirmam o fato. No
intervalo entre outubro de 2018 e dezembro de 2022, por exemplo, o desmatamento
resultante do garimpo ilegal na TI Yanomami subiu 309%, de acordo com
levantamento elaborado pela Hutukara Associação Yanomami. Em dezembro de 2022,
a área devastada era de 5.053,82 hectares, ante 1.236 hectares detectados no
início do monitoramento.
Um dos aspectos que surgem em meio às discussões que permeiam
o relatório diz respeito ao deslocamento das escavadeiras. Para o Greenpeace, é
possível rastrear as máquinas. No caso da Hyundai HCE Brasil, a ONG informa que
dispõe de um sistema de gerenciamento remoto, chamado Hi Mate, que utiliza GPS
para coletar dados. A ferramenta também seria capaz de emitir um comando para
interromper o funcionamento das máquinas. E é isso que a ONG cobra das empresas
fabricantes das escavadeiras: que a indústria pare de vender unidades que sejam
usadas para o garimpo ilegal e paralise as máquinas, quando estiverem
trabalhando com tal objetivo, ao serem localizadas nesse contexto.
De acordo com o relatório, as máquinas encontradas começaram
a ser vistas na Terra Yanomami a partir do segundo semestre do ano passado.
Quatro delas foram achadas em uma estrada clandestina. Perto do local, vive um
grupo de indígenas em isolamento voluntário. “Como se vê, o garimpo ilegal está
investindo na construção de rodovias dentro de florestas intactas para levar as
escavadeiras para o interior dos territórios indígenas”, alerta a ONG.
“A introdução dessas máquinas ajuda a explicar a expansão
muito rápida e muito violenta dessa atividade [garimpo ilegal] na Amazônia”,
disse o diretor de programas do Greenpeace Brasil, Leandro Ramos. A reportagem
entrou em contato com a Hyundai, mas a empresa não deu retorno até a publicação
desta matéria.