Chance de ex-presidente ficar impedido de concorrer tornaram-se maiores após parecer da Procuradoria-Geral Eleitoral em ação sobre ataques às urnas
Por Bianca Gomes e Nicolas Sob risco de inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, possíveis substitutos tentam se cacifarSob risco de inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, possíveis substitutos tentam se cacifarSob risco de inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro, possíveis substitutos tentam se cacifar
A possibilidade de Jair Bolsonaro ficar inelegível e não
disputar a Presidência em 2026 já acende as discussões sobre quem poderá
substituir o ex-presidente no campo da direita na próxima eleição. No grupo
bolsonarista, quatro nomes despontam como favoritos a postulante a herdeiro: a
ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL); o governador de São Paulo, Tarcísio
de Freitas (Republicanos); o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto (PL); e o
governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).
As chances de Bolsonaro ficar impedido de concorrer
tornaram-se maiores na semana passada, após a Procuradoria-Geral Eleitoral
defender sua inelegibilidade devido a indícios de abuso de poder político em
ataques feitos ao sistema eleitoral em reunião com embaixadores. Há ainda
outras 15 ações contra ele no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Caso a inelegibilidade se concretize, o eleitorado
bolsonarista tende a migrar em bloco para o nome indicado pelo ex-presidente,
avalia a cientista política Camila Rocha, pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise
e Planejamento.
Para se tornar viável,
essa pessoa precisará manter um certo equilíbrio entre as pautas que o
bolsonarismo defende e uma comunicação e postura menos belicosas — analisa
Camila, para quem essa estratégia seria necessária para atrair os apoiadores não
convictos do ex-presidente.
Em entrevista ao GLOBO, Tarcísio foi citado como opção a
Bolsonaro pelo ex-ministro e senador Ciro Nogueira (PP-PI). Ele chegou aos cem
dias à frente do governo de São Paulo com uma boa aprovação, de 44%, segundo o
Datafolha.
Sempre que questionado sobre a possibilidade de ser
candidato, Tarcísio desconversa. Segundo interlocutores, a antecipação do assunto
poderia ser lida como oportunismo e traição a Bolsonaro. A expectativa é que o
governador paulista aguarde um cenário definitivo para avaliar se concorre ou
não. Mas pesa na balança o fato de ele ainda poder disputar a reeleição.
Resistências a Tarcísio
A socióloga Esther Solano, que fez pesquisas qualitativas com
o nome do governador paulista, diz que ele tem boa performance entre eleitores
ideologicamente indefinidos e bolsonaristas moderados que estão cansados do
radicalismo do ex-presidente.
Tarcísio é
conservador, mas não radical, e consegue navegar entre os valores (do
bolsonarismo). Em São Paulo, ele aprovou a cannabis medicinal no SUS e, por
outro lado, está tentando aprovar privatizações. Ele ainda conseguiu sair na
frente no tema da violência escolar, conjugando o discurso da segurança nas
escolas com o da saúde pública — exemplifica Esther.
O problema é que o governador paulista tem encontrado
desconfiança de bolsonaristas pelos seus posicionamentos mais ao centro e o
pouco espaço dado à ala ideológica na máquina estadual. Tarcísio preteriu o
próprio partido nas nomeações ao Palácio dos Bandeirantes e quase não cedeu
cargos ao PL. Ao mesmo tempo, abriu um canal de diálogo com o presidente Lula e
fez de Gilberto Kassab (PSD), figura rejeitada por apoiadores de Bolsonaro, um
dos quadros mais influentes de sua gestão.
Um nome que hoje é mais palatável para a base é o da
ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Além de ser da família, ela desempenhou
papel central na campanha do ex-presidente em 2022, principalmente para
fidelizar o eleitorado evangélico e tentar reduzir a resistência do público
feminino a Bolsonaro.
No mês passado, ela assumiu a presidência do PL Mulher com a
missão de manter o bolsonarismo engajado e atrair mais mulheres para esse campo
político. O presidente do partido, Valdemar Costa Neto, disse, em entrevista ao
GLOBO, que a ex-primeira-dama “pode ser candidata até a presidente”. Mas a
ideia é rechaçada pelo próprio Bolsonaro, que vê a mulher sem “vivência
política” para disputar uma eleição.
Além de não ter o apoio do marido, Michelle tem contra si o
fato de acumular episódios controversos mesmo sem nunca ter ocupado um cargo
público. A ex-primeira-dama recebeu em sua conta cheques depositados pelo
ex-assessor Fabrício Queiroz, acusado de comandar um esquema de “rachadinhas”,
e foi um dos pivôs do episódio envolvendo conjunto de joias, dado pelo governo
saudita, que foi alvo de tentativas irregulares de liberação pelo antigo governo
junto à Receita Federal.
Outro nome próximo a Bolsonaro que surge como seu possível
sucessor é o de Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil e que
foi candidato a vice na chapa do ex-presidente.
General da reserva do Exército, o ex-ministro conta com a
simpatia da parcela do eleitorado que nutre admiração pelas Forças Armadas e
tem no currículo o comando da intervenção federal na segurança pública ordenada
pelo então presidente Michel Temer (MDB) no Rio de Janeiro em 2018. A
experiência, no entanto, pode render críticas de adversários políticos por
causa do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), ocorrido durante esse
período, e declarações exaltando a ditadura militar, o que afasta eleitores de
fora do bolsonarismo.
Tanto Braga Netto quanto Michelle, apesar de mobilizarem a
ala mais radical de Bolsonaro, não demonstram hoje ter uma capacidade
unificadora, segundo as especialistas ouvidas pelo GLOBO.
Frente com o PSDB
O governador mineiro, Romeu Zema, corre por fora dessa
disputa. De um partido que não faz parte do núcleo bolsonarista, ele aposta
mais no antipetismo do que nas pautas ideológicas, e tem feito uma gestão se
equilibrando entre moderação e acenos à direita.
Zema é considerado um liberal na economia, característica que não cria consenso no Brasil. Ele também não é um sujeito que tem capacidade mobilizadora em torno de outros valores, como Braga Netto tem com a ideia do militarismo, e Michelle com as temáticas da fé, moral e família. Por último, não tem carisma, que é o capital pessoal avalia Esther Solano.