À PF, Vasques disse que não existia previsão de fechamento de estradas por caminhoneiros; agência de inteligência, no entanto, informou ao policial sobre o protesto com três dias de antecedência
Depoimento
ex-Diretor Geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, na CPMI.
Foto: Bruno Spada / Câmara dos Deputados
Um relatório da Agência Brasileira de Inteligência, a Abin,
enviado no ano passado à Polícia Rodoviária Federal desmente o depoimento de
Silvinei Vasques à Polícia Federal. O documento alertava, em 27 de outubro,
sobre os riscos de que caminhoneiros bloqueassem estradas após o segundo turno.
Vasques, no entanto, disse à PF que o alerta não existia.
O documento citado foi revelado pelo site Metrópoles nesta
terça-feira 29. Nele, o alerta é claro: “(existem) chamamentos para que os
caminhoneiros parem à beira de rodovias, visando uma eventual paralisação, em
caso de derrota do atual Presidente da República (Jair Bolsonaro)”.
Três dias depois, mais de 200 trechos de estradas estavam
paralisados por motoristas que não aceitavam a derrota do ex-capitão. A
situação se arrastou por mais de uma semana. Ao final, a PRF agiu com mais
afinco para a desobistrução das rodovias apenas após ordem do Supremo Tribunal
Federal.
Vasques, porém, alegou à PF que nunca existiu um alerta de
que as estradas seriam fechadas por caminhoneiros. O depoimento em questão foi
dado no dia 25 de novembro de 2022. Aos investigadores ele disse que “a Polícia
Militar, a Polícia Civil, a Abin, a Polícia Federal e o GSI não conseguiram
prever o bloqueio nas rodovias”.
Como se vê, o relatório contradiz a afirmação, já que Vasques
teria sido informado sobre a situação com três dias de antecedência. Segundo o
site, além da PRF, a Abin informou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI),
o Ministério da Defesa, o Ministério da Justiça, a Polícia Federal, o STF, o
TSE e a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal sobre o tema.
Naquela ocasião, a ameaça foi classificada como sendo de
‘risco médio’ por não ter sido identificada, naquele momento, uma coordenação
para os atos.
“Nesse cenário, a atuação de indivíduos ou de pequenos
grupos, ainda que de forma espontânea e descoordenada, tem potencial para
impactar as rodovias, com consequências para a circulação de pessoas, bens e
Serviços. Ademais, o sucesso inicial de pequenos bloqueios tem potencial para incentivar
ações similares em outras regiões do país, devido à rapidez com que grupos de
caminhoneiros se comunicam por meio de aplicativos de mensageria, ampliando os
impactos e o potencial de crise”, alertou a Abin naquela ocasião.
O documento, importante ainda mencionar, cita a possível
participação de empresários no chamamento para os protestos. Algo que,
novamente, se concretizou poucos dias depois.
“Atos pontuais tendem a ocorrer, especialmente após a divulgação dos resultados, com possível participação de empresas de transporte e de caminhoneiros ligados ao Agronegócio”, dizia o relatório.