Os enviados especiais Bianca Rothier e Felipe Byington encontram moradores que não têm para onde ir.
O número de mortos depois do terremoto mais letal na história
moderna do Marrocos subiu, nesta segunda-feira (11), para 2.862. Os enviados
especiais Bianca Rothier e Felipe Byington mostram como as construções
características da região agravaram as consequências do tremor.
Logo cedo, a equipe saiu de Marraquexe para pegar a estrada
rumo às áreas ainda mais atingidas. O destino é a Amizmiz, bem perto do
epicentro do terremoto de sexta-feira (8), aos pés do Atlas - a cordilheira que
separa o Mediterrâneo e o Atlântico do deserto do Saara.
A correspondente Bianca Rothier conta que descobriu que uma
brasileira mora em Amizmiz - ou morava. A equipe foi até lá para tentar
conversar com ela. No caminho, as cenas chamam a atenção. Em exemplo grande de
solidariedade, um grupo de cerca de dez motos. O pessoal levava ferramentas bem
simples para ajudar nas buscas.
De repente, um sinal de esperança. O militar espanhol arranha
um português e demostra motivação. A equipe conta com cães farejadores,
equipamentos modernos e bastante experiência.
Bianca Rothier: "Até quando a gente pode ter
esperança?"
Militar espanhol: "Não temo um tempo limite. A gente tem
que saber que a busca é contínua, porque não se pode perder a esperança
nunca".
Mais adiante, os primeiros acampamentos com gente que não
pode voltar para casa. A Maruá, de 13 anos, contou que o pai a salvou e a mãe
salvou o irmão.
“Estou em choque e com medo porque ainda tem muitas
réplicas”, conta Maruá.
O governo não sabe quantas pessoas estão vivendo agora em
condições assim. A Organização Mundial da Saúde estima que 300 mil marroquinos
tenham sido impactados pelo terremoto.
Uma grande fila para pegar doações. Para quem não tem onde
dormir, colhões para deixar as noites menos desconfortáveis.
As pessoas são de Amizmiz, o destino da equipe do Jornal
Nacional. Amizmiz tinha cerca de 20 mil habitantes. Agora, é praticamente uma
cidade em ruínas. Todas as casas têm, no mínimo, vestígios do terremoto. Grande
parte foi completamente destruída.
Tudo é tão instável que as autoridades proibiram os moradores
de ficarem em casa. Só autorizou visitas rápidas para buscar pertences
essenciais. E foi nesse cenário que conseguimos encontrar a brasileira.
Michele Teixeira é casada com o Jamel Ait Lachegar, nascido e
criado em Amizmiz. Se mudou para lá há 20 anos, para trabalhar como guia de
turismo em um local que antes era conhecido apenas pelas belezas naturais e
pela cultura.
“Tem muitos vilarejos, aldeias, povoados que ainda guardam
suas tradições. Então muitas casas são ainda feitas de barro. Por isso essa
grande destruição”, diz Michele Teixeira, guia de turismo.
Para o casal, percorrer antigo caminho de casa virou sinônimo
de dor. Vizinhos morreram soterrados.
“Pessoas que eu conhecia, que eu via todo dia. É muito
triste. A gente que tem filho, a gente fala: ‘Graças a Deus, conseguimos tirar
os nossos'. Mas e as outras pessoas? ", lamenta Michele.
A equipe passou por dezenas de construções destruídas. Em
Amizmiz, as casas que não desabaram têm pelo menos rachaduras, fortes
rachaduras. Muitas ainda podem colapsar, como é o caso da casa da Michele e do
Jamel. Por questões de segurança, não pudemos entrar. Mas a Michele fez imagens
depois do terremoto.
"O terremoto não sacudia só. Ele pulava e depois ia para
frente, ia para frente e voltava", conta a brasileira.
Os filhos estão traumatizados.
“O de 11 anos está psicologicamente abalado. Ele vê o copo
com água em cima da mesa tremer, ele já grita: ‘Está acontecendo de novo, está
acontecendo de novo’. Se ele cochila, ele já acorda com medo: "Onde está
meu pai, onde está minha mãe?'. Eles estão completamente abalados”, conta Michele.
Como acham que vai ser daqui para frente?
“Vai ser muito difícil para as pessoas voltarem para a vida
normal deles, planejar, pensar. Não tem pensamento para o futuro”, diz Jamel
Ait Lachegar.
“Cada detalhe aqui foi feito colocado, teve um preço, teve um
sentimento e acabou. Agora é a gente olhar para frente e fazer de novo. E ter a
esperança, a fé de que vai ser melhor do que era”, afirma Michele.