Em discurso durante cúpula na Índia, presidente do Brasil declara que principal causa da divisão entre nações e pessoas é a desigualdade
(Foto: Ricardo Stuckert / PR)O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que irá
lançar uma Aliança Global contra a Fome quando o Brasil ocupar a Presidência do
G20, a partir de dezembro de 2023. Ele citou a medida em seu discurso na
segunda sessão da 18ª Cúpula de Chefes de Estado e Governo do G20, em Nova
Delhi, na Índia, na tarde deste sábado (9).
O combate à fome, pobreza e desigualdade é uma das
prioridades elencadas pelo governo brasileiro para o mandato do Brasil à frente
do G20, grupo que reúne 19 das principais economias do mundo, União Europeia e,
neste sábado, anunciou a entrada da União Africana como integrante permanente.
Será o primeiro mandato brasileiro desde que o grupo passou a se reunir chefes
de Estado e Governo, em 2008.
“Lançaremos, em nossa Presidência do G20, uma Aliança Global
contra a Fome. Esperamos contar com o apoio e o engajamento de todos vocês.
Para construirmos um mundo cada vez menos desigual e mais fraterno”, disse
Lula. “O que nos divide tem nome: é a desigualdade, e ela não para de crescer”.
Para o presidente, o problema da desigualdade só vem piorando
e precisa ser enfrentado com urgência, até mesmo para que os países em
desenvolvimento possam ter seu lugar à mesa no sistema internacional.
“Há dois séculos, a renda dos mais ricos era 18 vezes maior
do que a dos mais pobres. Hoje, em plena quarta revolução industrial, a renda
dos mais ricos é 38 vezes a dos mais pobres. Os 10% mais ricos detêm 76% da
riqueza do planeta, enquanto os 50% mais pobres possuem apenas 2%. De acordo
com as Nações Unidas, no ritmo atual, cerca de 84 milhões de crianças ainda
estarão fora da escola até 2030. Precisaremos de quase 300 anos para atingir a
igualdade de gênero perante a lei. Segundo a FAO, a fome afeta mais de 700
milhões de pessoas em todo o mundo. O mundo desaprendeu a se indignar e
normalizou o inaceitável”, lamentou.
Lula também defendeu que muitos dogmas econômicos não dão
conta da realidade e precisam ser mudados para que o problema da desigualdade
possa ser enfrentado de maneira mais ampla.
“A crença de que o crescimento econômico, por si só,
reduziria as disparidades se provou falsa. Os recursos não chegaram nas mãos
dos mais vulneráveis. O mercado continuou indiferente à discriminação contra
mulheres, minorias raciais, LGBTQI+ e pessoas com deficiência. A desigualdade
não é um dado da natureza. Ela é socialmente construída. Combatê-la é uma
escolha que temos de fazer todos os dias”, defendeu.
CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL – Na primeira sessão da cúpula, o
presidente Lula também adiantou que, quando o Brasil ocupar a Presidência do
G20, formará uma força-tarefa com o intuito de mobilizar a comunidade
internacional contra as mudanças climáticas. Para que isso seja possível, é
necessário que o desenvolvimento sustentável seja uma meta cada vez mais
adotada, segundo ele.
“As energias renováveis, os biocombustíveis, a
socio-bio-economia, a indústria verde e a agricultura de baixo carbono devem
gerar empregos e renda, inclusive para as comunidades locais e tradicionais. O
G20 deve impulsionar esse esforço, respeitando o conceito de responsabilidades
comuns, porém diferenciadas, e valorizando todas as três convenções da Rio 92:
de clima, biodiversidade e desertificação”, disse.
O presidente Lula também defendeu que os acordos climáticos
adotados nas COPs que ainda não foram total ou parcialmente adotados pelos
países terão papel essencial nessa mudança. No discurso, ele mais uma vez
cobrou que os países ricos façam a sua parte no financiamento do combate às
mudanças climáticas.
“A melhor forma de sermos ambiciosos é garantir o sucesso do Exercício de Avaliação Global do Acordo de Paris, na COP28, e da negociação de novas metas quantitativas. Para complementar esse esforço, lançaremos, em nossa Presidência do G20, uma Força Tarefa para Mobilização Global contra a Mudança do Clima. Queremos chegar na COP 30, em 2025, com uma agenda climática equilibrada entre mitigação, adaptação, perdas e danos e financiamento, assegurando a sustentabilidade do planeta e a dignidade das pessoas”, relatou Lula.