A Polícia Federal (PF) faz uma operação na manhã desta
segunda-feira, 29, para apurar ações do suposto esquema na Agência Brasileira
de Inteligência (Abin) que monitorava ilegalmente autoridades públicas e
outras pessoas. Um dos alvos da operação é o filho do ex-presidente Jair
Bolsonaro, Carlos Bolsonaro, segundo a jornalista Andréia Sadi.
Conforme a jornalista, mandados de busca e apreensão são
cumpridos. Um dos locais apontados é a Câmara do Rio de Janeiro.
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Operação Vigilância
Aproximada
Na última quinta-feira, 25, a PF deflagrou a Operação
Vigilância Aproximada, um desdobramento da Operação ùltima Milha, de outubro do
ano passado. O ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e
atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) foi alvo de busca e apreensão.
Segundo a investigação, o parlamentar usou a estrutura do órgão para fazer
espionagens ilegais que favoreceriam a família do ex-presidente Jair
Bolsonaro.
Conforme a PF, a Abin teria monitorado ilegalmente os
ministros do STF Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, o ex-presidente da Câmara
dos Deputados Rodrigo Maia, a ex-deputada Joice Hasselmann e o ex-governador
Camilo Santana, do Ceará, hoje ministro da Educação do governo Lula, entre
outras pessoas. A investigação aponta que ferramentas e serviços da Abin foram
utilizados para monitorar ilegalmente essas autoridades.
A Abin é o órgão responsável por fornecer informações e
análises estratégicas à Presidência da República para contribuir na tomada de
decisões. Conforme as investigações, a organização criminosa utilizava
ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis sem a devida autorização
judicial. Sob as orientações de Ramagem, sete policiais federais cumpriam as
determinações, monitorando alvos e produzindo relatórios apócrifos que seriam
divulgados com o fim de criar narrativas falsas.
A Polícia Federal encontrou, por exemplo, registros de que a
Abin tentou produzir provas que relacionassem ministros do Supremo Tribunal
Federal e deputados federais de oposição ao governo do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) ao Primeiro Comando da Capital (PCC). As notícias falsas ligando
essas autoridades à organização criminosa circularam em grupos bolsonaristas.
A Polícia Federal também encontrou documentos que indicam que
o sistema de inteligência da Abin foi usado indevidamente para monitorar uma
promotora de Justiça do Rio de Janeiro que investigou o assassinato da
vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Os documentos
sobre a promotora teriam a mesma identidade visual de relatórios apócrifos
produzidos pela “estrutura paralela” que, segundo a PF, teria sido montada na
Abin.
Espionagem ilegal a
favor de família Bolsonaro
Na decisão, o ministro listou os casos em que teriam ocorrido
práticas ilícitas, entre eles dois em que teria favorecimento a dois filhos de
Jair Bolsonaro, Flávio e Jair Renan. Outro caso em que teria havido
interferência foi para "utilização da ABIN para fins ilícitos é,
novamente, apontada pela Polícia Federal e confirmada na investigação quando
demonstra a preparação de relatórios para defesa do senador Flávio
Bolsonaro".
No caso de Jair Renan, segundo a PF, membros da Abin
teriam agido para produzir provas que contrariassem informações de uma
investigação da Polícia Federal. A investigação, aberta em 2021, indicava que
por "suposto tráfico de influência" de Jair Renan, ele teria recebido
um "veículo elétrico para beneficiar empresários do ramo de exploração minerária".
A Abin, segundo a investigação da PF, buscou produzir provas
que comprovassem que o carro não pertencia ao filho do presidente, mas que
estava em posse "de um dos principais investigados - sócio de Renan
Bolsonaro". À época da divulgação da investigação de tráfico de
influência, Jair Renan negou irregularidades.
Já no caso do senador Flávio Bolsonaro, segundo a PF, a Abin
ajudou a produzir relatórios que auziliassem a defesa do político no caso das
"rachadinhas" - prática em que funcionários públicos devolvem parte
do seu salário ao político. Em nota, o senador Flávio Bolsonaro disse que
a operação desta quinta "é um completo absurdo e mais uma tentativa
de criar falsas narrativas para atacar o sobrenome Bolsonaro". Sobre o
caso das rachadinhas, ele sempre negou irregularidades e crimes.