Ex-presidente também foi retratado como membro de uma organização criminosa que buscou desviar joias, atacar o processo eleitoral e tentar um golpe de Estado
(Foto: ABR | Reprodução)No relatório em que indicia o ex-presidente Jair Bolsonaro
por suposta fraude no cartão de vacinação contra a Covid-19, a Polícia Federal
também afirma que a adulteração teria ligação com a tentativa de golpe de
Estado em 8 de janeiro de 2023, quando vândalos bolsonaristas radicais invadiram
e depredaram as sedes dos Três Poderes.
O relatório da PF, que foi enviado ao Supremo Tribunal
Federal (STF), aponta ainda Bolsonaro como membro de uma organização criminosa
que buscou desviar bens de alto valor entregues por autoridades estrangeiras,
descredibilizar o processo eleitoral e tentar um golpe de Estado, entre outros
crimes.
"Por ser tratar de investigação que apura a atuação de
uma possível organização criminosa, que objetiva a obtenção de vantagens de
caráter diversos (políticos, patrimoniais ou não), por meio da prática de
várias infrações penais, identificou-se, até o presente momento, cinco eixos de
atuação dessa organização criminosa", disse a PF no relatório, que foi
visto pela Reuters nesta terça-feira.
Os eixos apontados pela corporação são ataques virtuais a
opositores; ataques a instituições como o STF e o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE); tentativa de golpe de Estado; ataques às vacinas e as medidas sanitárias
de combate à pandemia de Covid-19; e o uso da estrutura do Estado para obtenção
de vantagens como o uso de cartões corporativos para pagamentos de despesas
pessoais e o desvio de presentes dados por governos estrangeiros para enriquecimento
ilícito.
A PF afirma no relatório que a fraude no cartão de vacinação
"pode ter sido utilizada pelo grupo para permitir que seus integrantes,
após a tentativa inicial de golpe de Estado, pudessem ter à disposição os
documentos necessários para cumprir eventuais requisitos legais para entrada e
permanência no exterior (cartão de vacina), aguardando a conclusão dos atos
relacionados a nova tentativa de golpe de Estado que eclodiu no dia 08 de
janeiro de 2023".
Após ser derrotado pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da
Silva na eleição presidencial de 2022, Bolsonaro viajou para os Estados Unidos
acompanhado da filha e de assessores próximos nos últimos dias daquele ano, não
passando a faixa presidencial a seu sucessor.
Bolsonaro permaneceu nos EUA até o final de março de 2023 e
não estava no Brasil no dia 8 de janeiro, quando ocorreram os ataques de
bolsonaristas radicais às sedes dos Três Poderes.
Procurado pela Reuters, Bolsonaro respondeu por mensagem de
texto que a PF realiza "uma investigação seletiva" e ele está
tranquilo e não deve nada. "O mundo sabe que eu não tomei vacina",
afirmou.
Além das investigações da PF, o ex-presidente já foi
declarado inelegível por oito anos em junho do ano passado pelo TSE por causa
de uma reunião convocada por ele com embaixadores sediados em Brasília na qual
fez acusações sem provas contra a lisura das urnas eletrônicas e do processo
eleitoral brasileiro.
Ele também é investigado nos inquéritos sobre as joias
presenteadas pelo governo da Arábia Saudita e a tentativa de golpe.
No início deste mês, fontes ligadas a investigações que
envolvem Bolsonaro disseram à Reuters que já discutiam o indiciamento do
ex-presidente nos inquéritos.
O indiciamento abriria caminho para Bolsonaro ser denunciado
pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet. Se a acusação for aceita pelo
Supremo Tribunal Federal (STF), ele terá de responder a processo criminal que
pode levá-lo à prisão, em caso de condenação.
Em publicação no X, o advogado Fábio Wajngarten, que
representa Bolsonaro e foi chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência na
gestão do ex-presidente, criticou o que chamou de "vazamentos" em
relação a investigações sobre Bolsonaro.
"Vazamentos continuam aos montes, ou melhor, aos litros.
É lamentável quando a autoridade usa a imprensa para comunicar ato formal que
logicamente deveria ter revestimento técnico e procedimental ao invés de
midiático e parcial", escreveu.