Pela primeira vez, Appio fala sobre ligação feita ao filho de Malucelli, que motivou seu afastamento da Vara de Curitiba
O juiz federal Eduardo Appio, que tentou passar um pente-fino na Lava Jato em Curitiba, rompeu o silêncio publico desde que foi afastado do trabalhona 13ª Vara e falou ao jornalista Leandro Demori na noite de segunda (24), ocasião em que confirmou ter descoberto uma espécie de caixa-preta no gabinete que um dia pertenceu a Sergio Moro.
Appio levantou suspeitas sobre o uso do aparato do Poder Judiciário para promoção de espionagem politica. Ele disse que identificou no sistema interno da 13ª Vara uma série de gravações que podem envolver autoridades de todo o pais. O caso, no entanto, carece de apuração.
“Eu cheguei a visualizar várias interceptações telefônicas que não consegui ouvir uma a uma ou saber quem eram as pessoas interceptadas. Como aquela Vara tem passado tenebroso, desde aquela interceptação ilegal que acabou também contribuindo com o golpe na presidente Dilma, evidentemente fica a suspeita de que autoridades públicas do país inteiro tenham sido ouvidas ali”, disse Appio.
“Fato é que, sim, tínhamos indícios concretos de espinagem política no passado, na décima terceira vara. Eu não tive oportunidade de ver caso a caso porque fui removido”, completou Appio, frisando que “em todas as outras grandes questões, eu consegui, navegando sozinho (…) tirar o sigilo dos processos mais importantes.”
Appio citou em primeiro lugar o processo de grau 5, o mais alto nível de sigilo imposto por Moro, sobre a conta bancária que chegou a acumular 5 bilhões de reais de dinheiro da União. Appio disse que esse montante deveria ter sido direcionado para a União, mas que a Lava Jato decidiu internamente como aplicar os recursos que ficaram conhecidos como “orçamento secreto do Moro”.
Outros indícios de irregularidades foram encaminhadas por Appio as autoridades competentes. Mas o juiz sofreu um reves pelas mãos do proprio Moro quando tentou investigar, sozinho, se o genro de Moro era filho do desembargador do TRF-4, Marcelo Malucelli, que vinha atuando no caso Tacla Duran para impedir depoimento no Brasil sobre suposta extorsão praticada pelas autoridades da Lava Jato.
Pela primeira vez, Appio confirmou publicamente que foi autor do telefonema ao jovem advogado João Malucelli, que vinha negando que tinha relação familiar com o desembargador e Moro. Appio disse que havia um contexto para a ligação, que passava pela exaustão mental por estar afundado em trabalhos da 13ª Vara sem assessoria para ajudar.
Além disso, os servidores que restavam na Vara eram fieis a Moro e Deltan Dallagnol, e tornavam a situação ainda mais sensível. “O cenário era muito hostil, na vara, o tribunal, administração superior. Todos estavam contra. Esse e o contexto da ligação. Meu papel como juiz é combater a corrupção”, disse.
Mesmo assim, Appio arriscou apurar a ligação entre os Malucelli e Moro, e isso lhe custou a cadeira na 13ª Vara. Malucelli tambem acabou afastado.
“Eu tive que fazer isso pessoalmente porque não tinha ninguém em quem confiar. De um lado temos a temperatura da panela de pressão elevada no grau máximo, envolvendo várias frentes ao mesmo tempo. De outro lado, minha obrigação como juiz de combater corrupção e ir atrás, mesmo que isso envolva um colega e mesmo que seja um superior do TRF-4”, comentou.
“E o caso Tacla Duran, que estava monopolizando a atenção nacional naquele momento”, era o terceiro elemento nesse caldeirão. “Essa conjugação de fatores me levou a ligar, sim, para o rapaz, não no intuito de ameaçá-lo. Era para entender se era filho ou sobrinho. Sendo filho, era grave, indício de corrupção porque Malucelli estava jurisdicionando processos que afetavam diretamente ligados aos interesses de Moro. Como poderia jurisdicionar e, ao mesmo tempo, o filho ser sócio do Moro?” indagou.
Com informações do portal GGN, de Luís Nassif
Assista a entrevista na íntegra: