Documento foi selado em Nova York, após encontro no qual os governos de Brasil e China apresentaram proposta de paz já rejeitada por Zelensky; russos e ucranianos não foram convidados (Por Janaína Figueiredo Buenos Aires)
O presidente da China, Xi Jinping, com Lula em Pequim: Brasil resiste a ofensiva chinesa para ampliar Brics — Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação/Presidência da RepúblicaUm grupo de 12 países do chamado Sul Global, entre eles China
e Brasil, que em maio passado assinaram um documento intitulado
"Entendimentos Comuns entre a China e o Brasil sobre a Solução Política da
Crise na Ucrânia”, aderiram nesta sexta-feira, após encontro em Nova York, a um
comunicado sobre a guerra no qual anunciam, entre outras coisas, a intenção de
criar um grupo de “amigos pela paz, que vise promover entendimentos comuns para
apoiar esforços globais para a conquista de uma paz duradoura” entre russos e
ucranianos.
Os governos da Rússia e da Ucrânia não foram convidados e,
segundo fontes oficiais, se queixaram por não terem sido consultados sobre a
iniciativa de discutir a proposta sino-brasileira em evento paralelo à
Assembléia Geral das Nações Unidas.
O texto contou com a adesão de, além de Brasil e China, os
governos da Argélia, Bolívia, Colômbia, Egito, Indonésia, Cazaquistão, Quênia,
África do Sul, Turquia e Zâmbia, confirmaram fontes. O México apoiou o
comunicado, mas com ressalvas. Representantes da França, Suíça e Hungria
participaram do encontro como observadores, a pedido de seus respectivos
governos.
O Brasil foi representado pelo Assessor Especial da
Presidencia, Celso Amorim, e pelo chanceler Mauro Vieira. Perguntado sobre o
resultado da reunião, Amorim disse ao GLOBO estar "muito satisfeito",
e voltou a minimizar recentes declarações do presidente ucraniano, Volodymyr
Zelensky.
A proposta vai
prosperar quando os dois lados sentirem que a paz, ainda que não a paz ideal, é
melhor do que a guerra afirmou Amorim.
Em discurso na ONU esta semana, o presidente ucraniano
afirmou que "quando alguns propõem alternativas, planos de acordo pouco
entusiasmados, não apenas ignoram os interesses e o sofrimento dos ucranianos,
não apenas ignoram a realidade, mas também dão a Putin o espaço político para
continuar a guerra".
Nada contra Zelensky, mas o caminho que ele escolheu chegou
num beco sem saída. Nós queremos fazer um plano de paz — afirmou Amorim, na
véspera da reunião.
O documento negociado nesta sexta expressa “profunda
preocupação com a hostilidade em curso na Ucrânia e com os riscos de uma nova
escalada”, além de “riscos e crises decorrentes deste conflito, que tem causado
repercussões que afectam muitos países, incluindo os do Sul Global”.
Os 12 países defenderam os “propósitos e princípios da Carta
do Nações Unidas, respeitando a soberania e a integridade territorial dos
Estados, respeitando as preocupações legítimas de segurança dos Estados e
tomando em consideração a necessidade de defender os princípios da paz,
segurança e prosperidade”. Este último ponto atendeu a uma demanda de governos
europeus, que, segundo fontes oficiais, questionaram a não menção à Carta da
ONU no acordo selado em maio apenas por Brasil e China.
O comunicando defende o aumento de assistência humanitária e
a proteção de civis, mas, em momento algum, condena nenhum dos dois países
envolvidos no conflito. O texto pede, ainda, que “instalações nucleares
pacíficas e outras instalações energéticas” não sejam alvo de operações
militares. No ponto 7, os países que assinaram o comunicado fazem um apelo para
que não sejam utilizadas “armas de destruição em massa, especialmente armas
nucleares, químicas e biológicas” na guerra.
Na última quarta-feira, o presidente da Rússia, Vladimir
Putin, alertou o Ocidente que seu país poderia usar armas nucleares se fosse
atacado com mísseis convencionais, e que Moscou consideraria qualquer agressão
apoiada por uma potência nuclear como um ataque conjunto.
A decisão do mandatário russo de alterar a doutrina nuclear
oficial do país foi feita enquanto os Estados Unidos e o Reino Unido avaliam
permitir que a Ucrânia utilize armas ocidentais para atacar a Rússia, um pedido
que vem sendo feito há meses pelo presidente ucraniano.