Escritor critica omissão da mídia tradicional e alerta para estratégias de extrema direita, como gaslighting
Montagem a partir do gesto de Musk na posse de Trump (Foto: Divulgação)“O braço estendido do dono do X cumpre função dupla. De um
lado, acena para o submundo onde rastejam neonazistas e supremacistas brancos,
dando-lhes aval e incentivo. Do outro, busca confundir quem se chocou com o que
viu, negando ser o que evidentemente é”, escreveu o autor. Para ele, trata-se
de uma manobra deliberada e calculada, que se aproveita do caos comunicacional
amplificado pelas redes sociais.
O uso estratégico do gaslighting
Rodrigues destacou ainda como a extrema direita contemporânea
tem recorrido ao gaslighting como ferramenta política, uma
tática de manipulação psicológica que busca distorcer fatos para fazer com que
adversários duvidem de sua própria percepção. Ele explica que o termo,
originalmente popularizado pelo filme À Meia-luz (1944),
descreve um tipo de abuso psicológico no qual a vítima é levada a questionar
sua sanidade. “Há algo de genial numa manobra que vence quando se afirma,
energizando aliados, e volta a vencer quando se nega, confundindo adversários
ou colando neles a pecha de histéricos delirantes”, analisou.
Falhas da mídia e a responsabilidade jornalística
O escritor também criticou a postura da imprensa diante de
episódios como o descrito, argumentando que o jornalismo tem se mostrado omisso
e incapaz de cumprir seu papel básico de chamar as coisas pelos nomes corretos.
“Em vez de olhar para um gesto nazista e chamá-lo de gesto nazista, o
jornalismo atual tem preferido abdicar de sua responsabilidade no plano
factual”, lamentou Rodrigues.
Para ele, o problema vai além da neutralidade passiva e
reflete uma crise ética nas práticas jornalísticas contemporâneas, que muitas
vezes tratam eventos objetivos como meras opiniões. “O fato é que nem isso [a
mídia tradicional] está fazendo. Chamar as coisas pelo nome correto é um
princípio jornalístico fundamental que já vinha se afogando há alguns anos em
pusilanimidade”, afirmou.
Reflexões sobre o cenário atual
O texto de Sérgio Rodrigues funciona como um alerta sobre os
riscos da normalização de práticas antidemocráticas e da relativização de fatos
concretos. Ele conclui que a ascensão de figuras como Musk e o uso de
plataformas digitais para amplificar discursos de ódio configuram um quadro
político e social “distopicíssimo”. Para ele, os próximos anos prometem ser
desafiadores em termos de preservação da democracia e do debate público
honesto.
A análise de Rodrigues, publicada pela Folha de S.
Paulo, destaca a importância de combater o negacionismo e as estratégias de
desinformação com coragem e clareza, reforçando a necessidade de um jornalismo
comprometido com a verdade factual e com os valores democráticos.
Da Redação