Empresa Liga Engenharia tem entre sócios pessoas próximas ao ex-senador Fernando Bezerra Coelho
A Liga Engenharia recebeu cerca de R$ 74 milhões de emendas do relator, conhecidas como orçamento secreto, entre 2019 e 2024. Os dados são do Portal da Transparência.
Os valores foram direcionados por dois órgãos do governo
federal: o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) e a Companhia
de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Ambos
estão na mira da Polícia
Federal (PF) por causa de emendas.
A Liga, que em 2022 foi citada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em
auditoria sobre a atuação de um suposto cartel de empreiteiras em licitações de
pavimentação da Codevasf, é ligada ao ex-senador porque um dos sócios, Pedro
Garcez de Souza, é cunhado de um sobrinho de Bezerra Coelho.
Ele foi
líder do governo de Jair Bolsonaro (PL) no
Senado de 2019 a dezembro
de 2021. Antes ainda, de 2011 a 2013, Bezerra também fez parte do governo
de Dilma Rousseff como ministro da Integração Nacional.
Em 2021, auge da popularização do orçamento secreto, a Liga
mais recebeu dinheiro desse tipo de emenda, somando um total de R$ 33 milhões.
A maior parte do montante destinado à Liga por meio do
orçamento secreto veio da Codevasf, que pagou R$ 52,8 milhões à empresa. Outros
R$ 21,9 milhões vieram da autarquia destinada a obras contra as secas.
Quando todas as modalidades de emendas são levadas em
consideração (individuais e de bancada), o valor total recebido via emendas
pela empresa baiana sobe para quase R$ 100 milhões. Do total, R$ 53,9 milhões
vieram da Codevasf e R$ 45,4 milhões, do DNOCS.
De acordo com os dados da União, DNOCS e Codevasf foram os
únicos dois órgãos que destinaram dinheiro via emendas à Liga.
No caso do DNOCS, como
mostrou a coluna, a Liga é uma das que mais receberam pagamento custeados
com dinheiro de emendas da filial baiana do órgão.
A empresa recebeu R$ 19,5 milhões entre 2020 e 2024 por meio
do orçamento secreto.
Emendas de relator
Criada em 2019, a emenda de relator foi utilizada por
congressistas até 2022, quando o (STF) reconheceu sua
inconstitucionalidade pela falta de transparência.
Ao longo dos anos em que o orçamento secreto vigorou no
Brasil, DNOCS e Codevasf viram
o dinheiro de emenda aumentar significativamente. Algumas das emendas
indicadas naquela época viraram alvo de investigação pela PF, inclusive por
supostos desvios na contratação de obras.
Mesmo com o fim do dispositivo, as emendas seguem até hoje no
centro dos embates entre Congresso e Supremo. Em agosto de 2024, com orçamento
destinado ao instrumento cada vez maior, o ministro Flávio Dino determinou
a suspensão do pagamento das verbas até que os repasses fossem rastreáveis e
transparentes.
Defesa
Questionada, a Codevasf afirmou que as contratações do órgão
são precedidas de processos licitatórios eletrônicos, “que asseguram economia,
ampla concorrência, eficiência e transparência às seleções”.
“Relações eventualmente existentes entre sócios de empresas
fornecedoras e terceiros são desconhecidas e não integram o rol de critérios de
classificação ou desclassificação”, afirma o órgão.
A coluna também entrou em contato com o DNOCS, a Liga e com o ex-senador Fernando Bezerra Coelho, mas não obteve resposta.
Da Redação