Economistas alertam que impor tarifas recíprocas pode desestabilizar o comércio internacional
O Brasil está entre os países afetados pelas novas tarifas, especialmente no setor de etanol, como foi citado pelo próprio Trump - (crédito: Al Drago / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP)A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas recíprocas sobre países que taxam produtos norte-americanos acendeu um alerta no mercado financeiro e entre economistas. Especialistas afirmam que a medida, anunciada nesta quinta-feira (13/2), pode desencadear uma guerra comercial de grandes proporções, elevando a inflação global e prejudicando até mesmo a economia dos EUA no curto prazo.
Economistas avaliam que a medida protecionista pode afetar
tanto os países que exportam para os EUA quanto os próprios norte-americanos,
que enfrentarão um aumento nos custos de produção. Além disso, o Brasil, que
está entre os alvos da nova política tarifária, pode ser diretamente afetado,
especialmente no setor de etanol.
Entre os impactos mais imediatos apontados pelos
especialistas estão o aumento da inflação mundial, o encarecimento dos insumos
industriais e a possibilidade de uma recessão global, caso os países retaliem a
medida norte-americana. O economista Davi Lelis, da Valor Investimentos, avalia
que o impacto será sentido imediatamente. “O primeiro efeito que pode acontecer
é uma pressão inflacionária mundial. Quando as tarifas são aplicadas, os preços
dos produtos aumentam tanto para os importadores quanto para os consumidores
internos”, frisou.
Ele explica que o mercado não espera as tarifas entrarem em
vigor para reagir, pois opera com expectativas futuras. Isso significa que, de
acordo com Lelis, mesmo antes da implementação da nova política tarifária, as
empresas já ajustam seus preços, antecipando o impacto da medida. “Os mercados
não trabalham necessariamente com o que acontece, mas eles trabalham muito com
a expectativa do que vai acontecer”.
O escritor e economista Masimo Della Justina concorda e
acrescenta que os efeitos para os EUA podem ser prejudiciais no curto prazo. Ou
seja, além do aumento nos preços dos produtos importados devido às tarifas, os
próprios produtores americanos podem usar a justificativa do protecionismo para
elevar ainda mais os preços, tornando o custo de vida nos EUA ainda mais alto.
“Quem arcará com o maior custo será os próprios Estados Unidos, pois, na
economia, há um histórico de que produtores nacionais tendem a elevar os preços
quando precisam cobrir custos adicionais e, ao mesmo tempo, maximizar seus
lucros”, afirmou.
Embora Trump defenda a política tarifária como uma forma de
fortalecer a produção interna americana, os economistas alertam para o risco de
um efeito reverso, especialmente no curto prazo. O economista Davi Lelis
explicou que as empresas que sofrerem as tarifas têm duas opções: “ou repassam
os custos ao consumidor, elevando os preços e reduzindo o poder de compra, ou
absorvem a alta, diminuindo suas margens de lucro. De qualquer forma, haverá um
impacto negativo inicial”, explica Lelis.
Della Justina ressalta que Trump pode estar utilizando a
imposição de tarifas como estratégia política e diplomática, criando um cenário
desfavorável para depois negociar acordos diretos com os países afetados. “A
gente acha também que no jogo de xadrez que ele faz, às vezes ele bota um bode
expiatório na sala, ele cria uma tarifa absurda, faz afirmações absurdas, mas
para negociar bilateralmente com cada país que vai à Casa Branca.”
Diplomacia
O Brasil está entre os países afetados pelas novas tarifas,
especialmente no setor de etanol, como foi citado pelo próprio Trump. Os EUA
atualmente cobram apenas 2,5% sobre o etanol brasileiro, enquanto o Brasil
impõe uma tarifa de 18% sobre as importações do combustível norte-americano.
Para Lelis, o Brasil não deve adotar medidas de retaliação imediata. “Nosso
inimigo está lutando com um canhão e a gente está lutando com uma faquinha de
pão”, afirma Lelis, ao explicar que o Brasil tem uma economia muito menor que a
dos EUA e, por isso, responder com tarifas equivalentes poderia ser prejudicial
para o país.
Della Justina concorda e sugere que o Brasil deve transformar essa crise em uma oportunidade diplomática. O professor sugere que o Brasil adote a mesma postura de Canadá e México, que já conseguiram negociar isenções e prazos mais longos em disputas tarifárias anteriores com os EUA. “Sempre que existe um problema, seja ele econômico ou de diplomacia, você transforma esse problema numa oportunidade. Então, você pode ter perdas econômicas de imediato, mas você negocia outras coisas, outras esferas de influência”, comentou o especialista.
Da Redação