“Se a ideia era fazer pressão, não deu certo”, reconhece o advogado de um dos aliados de Jair Bolsonaro
Jair Messias Bolsonaro em julgamento da denúncia do núcleo 1 do inquérito do golpe (Foto: ROSINEI COUTINHO/STF)A decisão de Jair Bolsonaro (PL) de comparecer pessoalmente ao Supremo Tribunal Federal (STF) durante o julgamento que analisa o recebimento da denúncia por sua participação em uma trama golpista causou desconforto entre advogados de outros investigados.
Segundo Malu Gaspar, do jornal O Globo, a presença de Bolsonaro não estava prevista no
protocolo do STF e surpreendeu tanto a equipe de segurança quanto o cerimonial
da Corte. Apesar disso, a ideia já vinha sendo discutida nos bastidores com
seus advogados Celso Vilardi e Paulo Amador Cunha Bueno, tendo sido confirmada
de última hora.
Durante a sessão, Bolsonaro permaneceu sentado entre seus
dois advogados, trocando cochichos e acompanhando de perto a repercussão do
julgamento nas redes sociais e na imprensa. Para três advogados de acusados
ouvidos reservadamente pela jornalista, o gesto foi interpretado como uma
tentativa de intimidação política — e não como uma estratégia jurídica eficaz.
“É legítimo ele querer ver o julgamento, mas foi uma ideia
ruim”, avaliou o defensor de um dos demais denunciados. Outro advogado foi mais
direto: “Se a ideia era fazer pressão, não deu certo. Foi uma péssima ideia. O
Moraes endureceu ainda mais o seu voto, lendo com muito entusiasmo suas teses”.
De fato, em um dos trechos mais contundentes de sua
manifestação, o relator Alexandre de Moraes afirmou que “milícias digitais
continuam atuando”, inclusive durante a sessão, ao produzir e disseminar fake
news com o objetivo de intimidar o Judiciário. Ele ainda ressaltou, olhando
diretamente na direção onde estava Bolsonaro: “não perceberam que se, até
agora, não intimidaram o Poder Judiciário, não vão intimidar o Poder
Judiciário”.
Para outro defensor ouvido pela coluna, a ida ao plenário por
parte do ex-presidente pode até ser lida como um gesto de que ele não pretende
fugir do país nem se esconder diante de uma eventual condenação. No entanto, o
movimento foi visto como uma tentativa evidente de criar um fato político,
ainda que às custas do bom senso jurídico.
Apesar de tentar emplacar o discurso de que estaria apenas exercendo o direito de demonstrar indignação com as acusações, o gesto de Bolsonaro foi percebido por muitos como uma forma de pressionar — sem sucesso — os ministros da Primeira Turma, que analisam seu envolvimento direto na tentativa de ruptura democrática investigada pela Polícia Federal.