Rogério Correia aponta que ex-presidente pode responder por crimes previstos na Lei nº 14.197 por pedir intervenção externa e alegar ser informante dos EUA
O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) avalia ingressar com uma representação junto à Procuradoria-Geral da República (PGR) após Jair Bolsonaro (PL) admitir, em vídeo recente divulgado publicamente, ter atuado como informante do governo dos Estados Unidos. O ex-presidente afirmou ter solicitado intervenção estrangeira no Brasil, sustentando acusações infundadas sobre um suposto acordo nuclear entre o Brasil e a China.
A declaração, feita em vídeo divulgado na última semana,
mostra o ex-presidente afirmando que teria atuado como informante de
integrantes da equipe do presidente americano Donald Trump, a quem
ele afirma ter alertado sobre o risco de o Brasil se tornar uma "nova
Venezuela". Bolsonaro também insinuou que um acordo firmado com a
China permitiria a construção de "bombas atômicas", algo sem qualquer
evidência.
O vídeo que poderia ser enquadrado como mais uma das várias
sessões de mentiras e delírios do ex-presidente de extrema direita tomou
contornos políticos quando ele declarou: "Falei isso, já passei pra equipe
do Trump isso aí, tá, em primeira mão, lá atrás.... Eles têm uma preocupação
com o Brasil, dde que o Brasil se consolide como uma nova Venezuela. E nós
temos que... o problema do Brasil não vai ser resolvido internamente,
tem que resolver com apoio vindo de fora".
Em declaração exclusiva à Fórum, Rogério Correia
destacou que as falas recentes de Bolsonaro são passíveis de enquadramento
na Lei nº 14.197, assinada pelo próprio ex-presidente em setembro
de 2021. A legislação tipifica claramente crimes relacionados à espionagem e
atentados contra a soberania nacional.
“O que Jair Bolsonaro e os bolsonaristas têm feito é o que eu
chamo de crime continuado. É uma espécie de golpe enquanto
estratégia. Então, é sempre tentar criar o caos no país, a instabilidade
política e, a partir daí, conclamam que setores militares possam instituir aqui
um regime autoritário”, declarou Correia.
Segundo o parlamentar, a estratégia adotada por Bolsonaro e
seu grupo político é recorrente e visa gerar uma instabilidade constante, criando
pretextos para justificar intervenções autoritárias ou externas. Correia
citou especificamente o episódio recente envolvendo o deputado federal Eduardo
Bolsonaro, filho do ex-presidente, que tem feito declarações semelhantes no
exterior, mencionando golpes e possíveis intervenções estrangeiras no Brasil.
“Agora, mais impressionante ainda e mais ilegal e
inconstitucional foi o que fez Jair Bolsonaro, que fez uma denúncia
mentirosa e diz que fez aos Estados Unidos e pede intervenção americana,
sugerindo que tudo para resolver no Brasil precisa vir de fora. Ele diz, de
forma absolutamente falsa e irresponsável, que o Brasil está vendendo material
nuclear para a China produzir bombas atômicas. Olha a gravidade disso,
isso é crime”, enfatizou Correia.
Para Correia, além da gravidade das alegações feitas sem
qualquer fundamento, a conduta do ex-presidente pode configurar múltiplos
crimes previstos na Lei nº 14.197, como a entrega de informações
sensíveis ou falsas a governos estrangeiros, com potencial de colocar em risco
a ordem constitucional e a soberania nacional. A legislação prevê sanções
rigorosas para negociações e trocas de informações com agentes estrangeiros
visando provocar intervenção ou gerar desordem institucional.
O deputado também lembrou que as ações de Bolsonaro podem
representar tentativas explícitas de embaraçar investigações em curso,
especialmente aquelas conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF),
presididas pelo ministro Alexandre de Moraes. Correia reforça que este
comportamento é punível também com base na Lei nº 12.850, que trata
especificamente da obstrução de investigações judiciais.
"Crime contra interesse nacional"
"Isso é crime contra o interesse nacional,
que também coloca como pena o artigo 359 e tem um do código penal, da pena de 4
a 8 anos. Embaraços de investigações em curso, porque eles querem que Alexandre
Moraes não possa continuar o julgamento, incide na lei 12.850, que é pena de 3
a 8 anos. E nós poderíamos citar ainda crimes que são cometidos a partir da lei
14.197", afirmou o deputado petista.
Diante da gravidade dos fatos narrados por Bolsonaro, o
deputado anunciou oficialmente que encaminhará uma denúncia à PGR nos próximos
dias, buscando responsabilizar o ex-presidente pelos delitos
mencionados.
“Nós já fizemos ações anteriores prevendo punições judiciais
contra Bolsonaro e, certamente, vamos ingressar com novas medidas agora,
devido à gravidade das declarações recentes. Precisamos garantir que
ações tão irresponsáveis e perigosas não fiquem impunes. Vamos analisar com
rigor e encaminhar essa denúncia à PGR, responsabilizando Jair Bolsonaro por
mais esse crime cometido contra o país”, concluiu Rogério Correia.
Da Redação