É a única saída que ele tem para não ser preso
Por-Ricardo NoblatSe apenas fosse condenado, ele não pensaria em fugir. Mas
sabe que uma condenação será acompanhada da ordem de prisão. E a única chance
de não ser preso e cumprir a pena em uma unidade militar é fugir. Seria
arriscado demais não o fazer à espera de que um presidente aliado se eleja em
2026 e perdoe seus crimes.
De resto, como ter certeza de que o aliado vencerá Lula,
candidato a um quarto mandato? Como ter certeza de que ele não o trairá,
deixando-o mofar na prisão? Bolsonaro já provou ao longo de sua vida o sabor da
traição, inclusive de mulheres, e detestou. Quem gostaria? A política é também
uma história de traição.
O tenente-coronel Mauro Cid foi o faz tudo de Bolsonaro
enquanto ele governou. Ganhou o cargo por indicação do pai, o general Mauro
Cesar Lourena Cid, amigo de Bolsonaro desde a época da Academia Militar de
Agulhas Negras nos anos 1970. O Exército, feliz com a eleição de Bolsonaro,
chancelou a indicação.
O general ganhou também de Bolsonaro o cargo de diretor do
escritório da Agência Brasileira de Promoção e Exportações e Investimentos, em
Miami. A agência não é estatal, mas financiada com dinheiro público. De lá, o
general, a pedido do filho, meteu-se na venda de joias que Bolsonaro roubou do
Estado brasileiro.
Pois não é que o tenente-coronel Mauro Cid contou tudo ou
quase tudo o que sabia à Polícia Federal em troca de uma pena mais branda e da
exclusão do seu pai de qualquer denúncia? Se não o tivesse feito, Bolsonaro não
estaria tão encrencado como está. Encrencado e orientado a não confrontar Mauro
Cid.
Bolsonaro disse em 2021 que só encerraria o mandato preso,
morto ou com vitória. Foi derrotado, vive e não foi preso. Depois da eleição de
Lula, Bolsonaro disse e repetiu que só morto apoiaria outro candidato para
disputar a eleição presidencial de 2026. Segue repetindo isso para chantagear
os aspirantes ao seu apoio.
A direita torce para que ele não cumpra a palavra. E para que
não demore em apoiar outro nome. Só existe um: o do governador Tarcísio de
Freitas (Republicanos), de São Paulo. O apoio tem de ser dado sem pressa para
não parecer que Bolsonaro cedeu às pressões, nem devagar demais para que não se
torne inútil.
A demora excessiva seria mais prejudicial do que a pressa.
Não se constrói uma candidatura a posto majoritário da noite para o dia.
Dividida, a direita marchará célere para a derrota. Tarcísio pode não saber
para onde quer ir. Mas tem feito tudo que está ao seu alcance para agradar a
Bolsonaro e atrair seu apoio.
Tic, tac, tic, tac, bate o relógio a contar o tempo que falta
para Bolsonaro ser condenado e preso. Ou preso e condenado. Atenção, Alexandre
de Moraes: a segunda opção frustraria o plano de fuga.
Da Redação