Em vigor desde a madrugada de sexta-feira (24), o acordo negociado pelo Catar, com apoio do Egito e dos Estados Unidos, permitiu até o momento a libertação de 50 reféns
A trégua entre Israel e Hamas foi prorrogada nesta
terça-feira (28) para permitir a libertação de mais reféns israelenses e
detentos palestinos, assim como a entrada de ajuda adicional na Faixa de Gaza,
onde a situação humanitária é considerada “catastrófica”.
Em vigor desde a madrugada de sexta-feira (24), o acordo
negociado pelo Catar, com apoio do Egito e dos Estados Unidos, permitiu até o
momento a libertação de 50 reféns que estavam sob poder do Hamas na Faixa de
Gaza e de 150 palestinos presos em Israel.
Além disso, outros 19 reféns, em sua maioria trabalhadores
estrangeiros em Israel, foram libertados pelo Hamas à margem do acordo que, a
princípio, teria duração de quatro dias, até a madrugada desta terça-feira.
Poucas horas antes do fim do prazo, Estados Unidos e Catar
anunciaram a extensão da trégua por mais dois dias, até a quinta-feira às 7H00
de Gaza (2H00 de Brasília). No prazo adicional devem ser libertados quase 20 reféns
e 60 presos palestinos.
“As partes palestina e israelense alcançaram um acordo para
prolongar a pausa humanitária em Gaza por mais dois dias”, anunciou em um
comunicado o porta-voz da diplomacia do Catar, Majed al Ansari.
A imprensa israelense informou que o governo do país já
recebeu a lista com os nomes dos 10 reféns que o grupo islamista pretende
liberar durante o dia, mas não revelou suas identidades.
Durante a noite de segunda-feira, 11 reféns israelenses foram
libertados na Faixa de Gaza, incluindo seis de famílias argentinas: uma mãe e
as duas filhas adolescentes e a mulher de um argentino que permanece
sequestrado e suas duas filhas gêmeas de três anos.
O Ministério das Relações Exteriores da Argentina, que
identificou pelo menos 21 cidadãos desaparecidos ou sequestrados no ataque de 7
de outubro do Hamas, comemorou a libertação do grupo, mas pediu “a libertação
imediata e incondicional de todos os reféns”.
“Alegria indescritível”
Pouco depois, Israel libertou 33 palestinos de suas prisões,
incluindo Mohamed Abu al Humus, que abraçou a mãe ao retornar para casa em
Jerusalém Oriental.
“Não posso descrever o que sinto. É uma alegria
indescritível”, declarou aos correspondentes da AFP.
Em Beitunia, na Cisjordânia ocupada, a recepção aos presos
liberados terminou em confrontos com as forças de segurança de Israel. Um jovem
palestino morreu ao ser atingido por tiros, informou o Ministério da Saúde
palestino.
Antes da extensão da trégua, o gabinete do primeiro-ministro
israelense, Benjamin Netanyahu, aprovou a inclusão de “50 prisioneiros” na
lista de pessoas que podem ser liberadas, entre elas Ahed Tamimi, uma jovem que
virou símbolo da causa palestina.
Os mediadores trabalham para prolongar a trégua além das 48
horas adicionais. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, viajará no
fim de semana para Israel e Cisjordânia ocupada para reuniões com Netanyahu e o
presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas.
Apesar da pressão da sociedade civil para conseguir o retorno
de mais reféns, tanto o Exército como o governo de Israel reiteraram nos
últimos dias que pretendem retomar os combates para “eliminar” o Hamas.
O governo de Netanyahu solicitou ao Parlamento um orçamento
“de guerra” de 30,3 bilhões de shekels (8 bilhões de dólares, 39 bilhões de
reais).
Israel iniciou a ofensiva contra a Faixa de Gaza após o
ataque do Hamas em 7 de outubro, quando 1.200 pessoas foram assassinadas por
combatentes islamistas e outras 240 foram sequestradas, segundo as autoridades
israelenses. Entre os mortos estão mais de 300 militares ou integrantes das
forças de segurança.
Em Gaza, alvo de bombardeios incessantes e de uma ofensiva
terrestre desde 27 de outubro, a operação israelense deixou 14.854 mortos,
incluindo 6.150 menores de idade, segundo o Ministério da Saúde controlado pelo
Hamas.
“Catastrófica”
A extensão da trégua deve permitir a entrada de mais
caminhões com ajuda para a Faixa de Gaza, cercada e devastada por sete semanas
de ofensiva israelense.
“A situação humanitária em Gaza continua sendo catastrófica e
o território precisa da entrada urgente de ajuda adicional de forma fluida,
previsível e contínua para aliviar o sofrimento insuportável dos palestinos em
Gaza”, afirmou o emissário da ONU para o Oriente Médio, Tor Wennesland.
Mais de metade das residências do território foi danificada
ou destruída pela guerra, que provocou o deslocamento de 1,7 milhão dos 2,4
milhões de habitantes, segundo a ONU.
A trégua ofereceu um alívio aos moradores de Gaza, mas a
situação humanitária continua “perigosa” e as necessidades “sem precedentes”,
afirmou a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA).
“Sofremos porque não temos comida, água, não nos trazem nenhuma ajuda”, lamentou Fouad Hara, um palestino pai de cinco filhos, deslocado pelos combates na Cidade de Gaza para o sul do território.