Medidas do presidente dos EUA provocam perdas bilionárias nas bolsas e temores de recessão
Donald Trump - 02/02/2025 (Foto: REUTERS/Leah Millis)Reportagem publicada pela Reuters nesta segunda-feira (7), assinada por Trevor Hunnicutt e Leika Kihara, aponta que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a provocar fortes abalos na economia global ao declarar que outras nações só conseguirão evitar uma nova leva de tarifas comerciais se aceitarem “pagar muito dinheiro anualmente”. As declarações acentuaram a tensão nos mercados financeiros, com quedas expressivas em bolsas asiáticas e futuros de Wall Street, ampliando os receios de uma recessão mundial.
“Não quero que nada aconteça. Mas às vezes é preciso tomar
remédio para consertar alguma coisa”, afirmou Trump a jornalistas a bordo do
Força Aérea Um, ao regressar de um fim de semana na Flórida. A fala reforça a
retórica do presidente, que vem caracterizando as tarifas como “remédios”
inevitáveis, mesmo diante da destruição de bilhões de dólares em valor de
mercado desde os primeiros anúncios de sua nova ofensiva tarifária, feita na
semana passada.
As declarações provocaram reações imediatas de governos
aliados dos EUA. Japão, Taiwan, Israel, Índia e Vietnã já iniciaram contatos
com Washington na tentativa de evitar os impactos das medidas, mas, segundo
Trump, qualquer negociação dependerá de compensações financeiras substanciais.
“Eles estão vindo para a mesa. Eles querem conversar, mas não há conversa a
menos que nos paguem muito dinheiro anualmente”, disse o presidente
norte-americano.
O pacote tarifário tem sido amplamente criticado por líderes
estrangeiros e já levou a China, segunda maior economia do mundo, a anunciar
tarifas retaliatórias. A escalada de tensões gerou apreensão entre investidores
e analistas, alimentando previsões pessimistas quanto ao crescimento global em
2025.
Nem mesmo apoiadores de Trump na elite financeira deixaram de
expressar preocupação. O bilionário Bill Ackman, que foi um dos financiadores
de sua campanha presidencial, fez um apelo público pela suspensão das tarifas,
alertando para o risco de uma “guerra nuclear econômica”.
Dentro da administração Trump, o discurso é de que as medidas
fazem parte de uma reestruturação estratégica da posição comercial dos EUA no
mundo. “Mais de 50 nações começaram negociações com os EUA desde o anúncio da
última quarta-feira”, declarou o secretário do Tesouro, Scott Bessent. Já o
secretário do Comércio, Howard Lutnick, foi categórico: “As tarifas
permanecerão em vigor por dias e semanas”.
Enquanto as negociações ocorrem, o impacto nas economias já
se faz sentir. No Japão, o índice Nikkei caiu para o menor patamar em um ano e
meio, com bancos japoneses – entre os maiores credores do mundo – perdendo
cerca de 25% de seu valor de mercado nos últimos três pregões. “Os resultados
não virão da noite para o dia”, reconheceu o primeiro-ministro japonês, Shigeru
Ishiba, em discurso no parlamento.
Além das bolsas, o efeito dominó atingiu o mercado de
petróleo, com queda nos preços globais da commodity, e elevou as apostas de que
os EUA cortarão suas taxas de juros já em maio. Apesar disso, o assessor
econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, garantiu que não haverá pressão
política sobre o Federal Reserve. “Não haverá coerção política”, declarou.
As projeções revisadas por bancos como JPMorgan e Goldman
Sachs são alarmantes. O JPMorgan estima que as tarifas provocarão uma queda de
0,3% no PIB dos EUA este ano, reduzindo a expectativa anterior de crescimento
de 1,3%. Para a China, o Goldman Sachs prevê uma desaceleração de pelo menos
0,7 ponto percentual, acompanhada de um provável relaxamento fiscal.
Diante do novo cenário, o Reserve Bank of New Zealand –
primeiro grande banco central a se reunir após a ofensiva tarifária de Trump –
deve anunciar um corte de juros nesta terça-feira, possivelmente abrindo uma
nova onda de políticas monetárias expansionistas ao redor do mundo, em uma
tentativa de conter os efeitos da instabilidade provocada por Washington.
Com a política tarifária de Trump impondo riscos reais ao
comércio internacional e à estabilidade macroeconômica, líderes globais
enfrentam agora o desafio de reagir a uma estratégia que mistura
imprevisibilidade, pressão financeira e um reposicionamento agressivo dos EUA
no cenário geopolítico.
Da Redação