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Sede da Petrobras no Rio de Janeiro

O Conselho de Administração da Petrobras deve avaliar se incluirá no Plano de Negócios 2026-2030 a volta da estatal ao setor de distribuição. Segundo pessoas a par do assunto disseram ao Estadão/Broadcast, a Petrobras cogita voltar ao setor por meio de um projeto greenfield – ou seja, começando do zero, como foi há décadas com a criação da BR Distribuidora. A intenção não seria o controle de preços, mas garantir que não haverá represamento de cortes do valor das refinarias da empresa ao consumidor final.

A BR Distribuidora, empresa de distribuição de combustíveis da Petrobras, foi vendida em julho de 2019, quando a Petrobras deixou de ser a maior acionista da distribuidora, que passou a ter mais capital privado do que estatal e recebeu o nome de Vibra. A nova empresa ficou com direito de usar a marca Petrobras nos postos até 2029. A estatal já comunicou que não deve renovar esse prazo. Na época, a oferta inicial de ações rendeu R$ 9,6 bilhões à petroleira.

Procurada por IstoÉ Dinheiro, a Petrobras não se manifestou. Mas na noite de sexta-feira, 18, divulgou comunicado afirmando que estuda oportunidades de negócios em todos os segmentos, mas que até o momento não há decisão tomada.

“A Petrobras esclarece que estuda, no âmbito da construção do Planejamento estratégico, que ocorre anualmente, oportunidades de negócios sinérgicos em todos os segmentos de energia. Todos os estudos estão em andamento e, até o momento, não há qualquer decisão tomada pela Companhia. A companhia também esclarece que não há nenhum estudo para voltar ao setor de distribuição por meio de um projeto greenfield”.

Na quinta-feira, 17, após a notícia sobre o conselho da Petrobras estar considerando retornar ao varejo de venda de combustíveis, as ações da Vibra Energia chegaram a cair 2,3% no Ibovespa.

Já duas fontes disseram à Reuters que a Petrobras não tem planos de voltar a vender combustível no varejo. Uma delas observou que a estatal possui uma cláusula de não concorrência com a Vibra, sua antiga subsidiária, até 2029. A fonte acrescentou que, mesmo que o assunto viesse à tona durante uma reunião do conselho, essa cláusula impediria qualquer ação.

Volta ao varejo não é bem avaliada

Um possível retorno da Petrobras ao mercado de varejo de combustíveis é visto como negativo tanto do ponto de vista de negócios quanto do de governança, dizem analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast. A avaliação é que a estatal deve concentrar esforços em exploração e produção de petróleo, como faz na Bacia de Santos. Além disso, concorrentes como Ultrapar, Cosan e até mesmo a Vibra já têm presença relevante, dado o tamanho do mercado.

Rodrigo Glatt, sócio da GTI Administração de Recursos, destaca que, ainda que a estatal seja um nome “de peso”, o desenvolvimento de novos postos seria menos rentável do que os já existentes.

“É um business de capital intensivo e de retornos muito mais baixos do que os investimentos que ela tem em exploração de petróleo, que é onde ela devia focar”, diz.

Apesar de a estatal ter reduzido o preço da gasolina em 5,6% no início de junho, os postos de abastecimento praticamente não repassaram a queda, o que trouxe descontentamento ao governo Lula.

“Para montar uma rede como da Ultrapar, da Ipiranga, ou da Cosan, com a Shell, leva-se muito tempo, e o mercado já está ocupado. A saída seria desenvolver novos postos ou comprar redes pequenas de bandeira branca, o que exigiria muito trabalho e levaria tempo para a Petrobras se tornar relevante”, complementa Glatt.

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a notícia sinaliza pressão negativa sobre o segmento de distribuição

“Os postos ganham pela variação de preços ao longo do tempo, e os retornos já estão ruins porque a Petrobras não acompanha a cotação internacional. Me parece que, se a estatal assumir postos, será ruim para todo o setor, ao criar distorção difícil de reverter”

A Ativa avalia que, no longo prazo, a medida é potencialmente destrutiva de valor tanto para a estatal, que deveria focar em E&P, quanto para a Vibra. “Ainda que a proposta possa gerar reação positiva de curto prazo nas ações da distribuidora, apoiada em dispositivos de proteção acionária, temos dúvidas quanto à capacidade de execução sob uma nova gestão Petrobras”, diz a casa.

Para Cruz, mesmo que a ideia não seja a de controlar preços, o movimento reforça a percepção de maior intervenção estatal. “Acho que o passo seguinte ainda não foi dado porque as contas públicas estão deficitárias, e a Petrobras vem sendo solução, ano após ano, por meio dos dividendos”, afirma.

BR Distribuidora e Vibra

A Vibra é uma das maiores distribuidoras de combustível da América Latina, operando uma rede de postos de gasolina com a marca Petrobras e vendendo combustível diretamente a empresas.

Os postos de combustíveis BR Distribuidora só poderão usar esta marca até junho de 2029. Isso significa que os postos conhecidos como Postos Petrobras devem deixar de existir com esse nome a partir de então. Esse foi o acordo feito na época em que a petrolífera brasileira vendeu seus negócios de distribuição de combustíveis, em 2019.

Em junho de 2021, a estatal realizou nova oferta de ações para se desfazer dos 37,5% de sua parte na distribuidora. A composição acionária da Vibra é dividida da seguinte forma:

Dynamo 10,28%

Samambaia Master Fundo 8,93%

Previ 5,24%

BlackRock 5,22%

Outros 70,32

No começo deste ano, a Petrobras comunicou ao mercado que notificou a Vibra sobre não ter interesse “em prorrogar o prazo de vigência nos termos do atual contrato de licença de uso de marcas da companhia, que se iniciou em 28 de junho de 2019 e se encerrará em 28 de junho de 2029”, diz a estatal.

Até lá, a Vibra pode seguir usando a marca BR. “O referido contrato seguirá vigente, sujeito aos termos e condições contratuais”, reforça a estatal.

No dia 10 de janeiro a Vibra publicou Fato Relevante confirmando a notificação da Petrobras e que “tal comunicação não gera qualquer mudança na estratégia da companhia em relação aos seus revendedores e clientes em geral”. Ou seja, os postos seguem como BR, incluindo postos, caminhões e em outros ativos e comunicações oficiais da empresa, até junho de 2029.

No Fato Relevante, a Vibra destacou que a possibilidade da não renovação do contrato após 2029 já fazia parte dos planos de médio e longo prazo da empresa, e que o acordo previa a possibilidade de as partes envolvidas comunicar o interesse de não renovação até 24 meses antes do seu término.

Em maio, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou que fica preocupada ao ver que postos que estampam a marca da petroleira, mas que não pertencem mais à companhia, estão vendendo combustíveis por preços acima do que deveriam, incorporando margens.

 Com  ISTOÉ

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