Dentro de minha simplicidade tocante, comecei janeiro
ganhando concurso nacional de poesia ruim, competindo com monstros sagrados
desta categoria, a exemplo do ex-presidente Michel Temer. Minha poesia
enjoativa e deletéria propicia momentos de meiguice e compaixão por tanta
mediocridade. Uma pequena porção do meu verso trivial:
Chorei no mar
água salgada
lágrima salgada
como separar?
Depois de janeiro, até dezembro viajei ao sabor de fantasias,
sonhos sonhados no meu sono polifásico, aquele que é dividido por várias fases
durante a noite. Dorme-se pouco. Durante esses períodos de sono curto, você
permanece entre a vigília e o estágio mais profundo. Diz a ciência que o sono
polifásico ajudou na criatividade de personalidades como Leonardo da Vinci,
Thomas Edson, Lord Byron e Napoleão Bonaparte. Entretanto, a imensa maioria das
pessoas que dorme mal, sente apenas dor de cabeça e cansaço. Algumas são
acometidas de fortes crises de imbecilidade extasiante. A modéstia impede a
inclusão deste velho folhetista na última categoria. Evocações celestiais
garantem que os anjos dormem pouco, sob o efeito do espirito de escoteiro:
sempre alerta.
O mundo seguia com suas narrativas estrambólicas. Em janeiro,
baratas invadiram o Capitólio. Depois se verificou que se tratava de mutações
do gênero humano. Ainda em janeiro, psicografei um folheto de cordel do poeta
Antonio Xexéu, com o título: “Depois que tomar vacina nunca mais tu vai
brochar”. Começou a vacinação, iniciou-se mais um ano estúpido no Brasil e em
fevereiro deu-se o carnaval da depressão. Eu continuava no meu canto, sem
aglomerar com canalhas idiotas e com forte resistência à cloroquina. Ainda em
fevereiro, caminhoneiros tentaram uma greve sem o comando dos patrões e o
caminhão acabou não parando no piquete por falta de freios e excesso de rebite.
Em março, só se falou no Big Brother Brasil, onde se sobressai uma moça por
nome Carol com Cão. Naquele mês, fascistas soltam os cachorros pra morder a
bunda de dona democracia, que escapa ilesa. Aproveitei para lançar meu folheto
“Cordel do Alzheimer e outras bobajadas poeméticas”, abrindo com esta sextilha:
A cadela do fascismo
Volta e meia aparece
Com o rabo entre as pernas
Defendendo com uma prece
A moral e bons costumes
Enquanto o abismo tece
POR - FÁBIO MOZART