O trabalho foi apresentado no congresso de Gastroenterologia da Europa Unida (UEG Week), em Viena, na Áustria
Uma nova estratégia de tratamento para diabetes tipo 2 que consegue reduzir de maneira significativa ou até mesmo eliminar a necessidade de terapia com insulina foi apresentada no congresso de Gastroenterologia da Europa Unida (UEG Week), em Viena, na Áustria. Atualmente, a doença crônica afeta 422 milhões de pessoas.
O novo procedimento conhecido como ReCET (Re-Celularização via Terapia de Eletroporação), o qual é combinado com a semaglutida, princípio ativo presente no Ozempic, teve como resultado o fim da terapia com insulina para 86% dos pacientes
Os pesquisadores realizaram o primeiro experimento em humanos com 14 participantes, que tinham idades entre 28 e 75 anos, com índices de massa corporal variando de 24 a 40 kg/m². Cada um deles passou pelo procedimento ReCET sob sedação profunda, um tratamento destinado a melhorar a sensibilidade do corpo à sua própria insulina.
Em seguida, eles passaram por uma dieta líquida isocalórica durante duas semanas, após a qual a semaglutida foi incluída até 1 mg/semana.
No acompanhamento geral, de seis e 12 meses, 86% dos participantes não precisaram mais de terapia com insulina, e o resultado se manteve no acompanhamento de 24 meses. Nesses casos, todos os pacientes mantiveram o controle glicêmico, com os níveis de HbA1c permanecendo abaixo de 7,5%.
Por outro lado, a equipe observou que a dose máxima de semaglutida (1 mg/semana) foi bem tolerada por 93% dos participantes, no entanto, um indivíduo não conseguiu aumentar para a dose máxima devido à náusea. Todos completaram com sucesso o procedimento ReCET, e nenhum efeito adverso sério foi relatado.
“Ao contrário da terapia medicamentosa, que requer adesão diária à medicação, o ReCET é livre de adesão, abordando a questão crítica da adesão contínua do paciente no gerenciamento do DT2. Além disso, o tratamento é modificador da doença: ele melhora a sensibilidade do paciente à sua própria insulina (endógena), atacando a causa raiz da doença, ao contrário das terapias medicamentosas disponíveis atualmente, que são, na melhor das hipóteses, controladoras da doença”, afirma Celine Busch, principal autora do estudo, em comunicado.
Como funciona o Ozempic?
O Ozempic é um medicamento que tem como princípio ativo a semaglutida, uma forma sintética do hormônio GLP-1, aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento de diabetes tipo 2. Sua administração é feita por meio de uma caneta injetável e está disponível em apresentações de 0,25 mg, 0,5mg e 1mg.
A semaglutida é o mais avançado até então no país entre os chamados análogos de GLP-1, classe de medicamentos que simulam o hormônio GLP-1 no corpo humano. Existem receptores desse hormônio em diversas partes do corpo. No pâncreas, por exemplo, essa interação aumenta a produção de insulina, necessária para pacientes com diabetes.
O remédio age no corpo imitando um hormônio ligado ao apetite e a alimentação, ajudando a estimular a produção de insulina e, assim, a diminuir os níveis de glicose no sangue do indivíduo. Já no estômago, o GLP-1 reduz a velocidade da digestão da comida e, no cérebro, ativa a sensação de saciedade. Esses mecanismos levam a pessoa a sentir menos fome e, consequentemente, reduzir as calorias ingeridas por dia.