Momento foi instituído para evitar a influência externa na escolha do pontífice. Seguindo o rigoroso protocolo, cardeais ficam incomunicáveis até a fumaça branca sair da chaminé da Capela Sistina
Vestidos com uma batina vermelha ornada com faixa, anel, solidéu e barrete, os cardeais pedem luz para escolher o futuro líder dos 1,4 bilhão de católicos - (crédito: AFP)Vestidos com uma batina vermelha ornada com faixa, anel,
solidéu e barrete, os cardeais entoarão, no caminho, o Veni Creator,
um hino que exorta o Espírito Santo. Eles pedem luz para escolher o futuro
líder dos 1,4 bilhão de católicos.
Eles estão totalmente isolados do mundo exterior, sem
comunicação e fazendo voto de silêncio”, conta Matthew Gabriele, professor de
estudos medievais do Departamento de Religião e Cultura da Virginia Tech, nos
Estados Unidos. O especialista explica que o rito do conclave — do latim, “com
chave”, em referência ao isolamento dos cardeais — data do século 13.
“Nos primórdios da Igreja, o papa era frequentemente eleito
meramente pelo consenso do clero e dos leigos em Roma”, conta Rebecca Rist,
medievalista da Universidade de Reading, na Austrália. “Durante o período
medieval, reis, imperadores e a aristocracia romana europeus frequentemente
tinham muita influência nas eleições papais, então, em 1059, um órgão especial
conhecido como Colégio dos Cardeais foi designado para se tornar o único a
eleger o papa.” Os ritos — muitos dos quais não sofreram alteração — foram
estabelecidos em 1276 pela Constituição Ubi Periculum.
Violência
“Eleger essa figura poderosa foi um assunto turbulento,
marcado pela violência e interferência externa”, observa Joëlle Rollo-Koster,
professora da Universidade de Rhode Island, nos Estados Unidos, coeditora do
livro História do Papado, de Cambrigde. “A igreja levou séculos
para desenvolver um sistema eleitoral livre de manipulações — o que deveria
ressoar na política contemporânea.”
Os cardeais eleitores, que devem ter menos de 80 anos, são
bispos, presbíteros e diáconos. Rebecca Rist explica que eles não costumam
votar em bloco — caso contrário, dificilmente seria escolhido um papa não
italiano, já que os desta nacionalidade são maioria. Segundo a teóloga Susan
Timoney, professora da Universidade Católica da América, em Michigan, embora
passem muito tempo conversando entre eles, “quem está fora do conclave precisa
ter cuidado para não reduzir as discussões dos cardeais à ‘política do dia’”.
Timoney ressalta que os católicos acreditam que quem age na
escolha do novo pontífice é o Espírito Santo. “Acho que é um ambiente muito
mais voltado para a oração. Acredito que muitos deles passam muito mais tempo
em silêncio e em oração se preparando para essa decisão do que fazendo campanha
para seu candidato.”
O conclave só termina quando sai a fumaça branca da chaminé
instalada na Capela Sistina. Enquanto o povo aguarda, ansioso, na Praça de São
Pedro, o cardeal eleito veste pela primeira vez a batina papal na “Sala das
Lágrimas”, um pequeno cômodo dentro da capela. Dentro de minutos, então, o
camerlengo anunciará a famosa frase “Habemus Papam”, apresentando ao mundo o
novo pontífice.