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Orientação superior foi relacionada à necessidade de melhorar “contato” com gabinete presidencial após escândalo da cocaína

Um áudio obtido pelo Metrópoles mostra que, bem no início da farra das viagens aéreas do clã Bolsonaro com aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), havia um estímulo da alta cúpula da Aeronáutica para “atendimento total” das solicitações vindas do gabinete do então presidente da República.

Quem envia a mensagem é o coronel da Aeronáutica Eduardo Alexandre Bacelar, então coordenador-geral de Transporte Aéreo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência. Segundo ele, seria uma forma de agradar o então presidente e resgatar a confiança dele e do gabinete na FAB, que, diz ele, estava abalada após um sargento ter sido preso na Espanha em 2019 com 39 quilos de cocaína transportados no avião da comitiva presidencial.

O áudio foi enviado pelo coronel no primeiro semestre de 2019 para os militares envolvidos diretamente no gerenciamento das aeronaves usadas pela Presidência. Na ocasião, Bacelar passava orientações com base em um entendimento vindo de uma conversa com outro integrante do alto escalão da FAB, o brigadeiro Pedro Luís Farcic. O brigadeiro era chefe de gabinete do então comandante da Aeronáutica, Antônio Carlos Moretti Bermudez.

O chefe do transporte aéreo do GSI fala em tom professoral ao se dirigir aos colegas de menor patente. A mensagem foi entendida, evidentemente, como uma ordem. Bacelar diz: “Conversando com o brigadeiro Farcic, eu estou entendendo ali que a política é de total atendimento das solicitações (do gabinete do presidente)”.

Ele prossegue: “Até mesmo, acredito eu, para tentar restabelecer um contato de mais confiança ali e de cooperação com a Presidência, que ficou um pouco abalado com esses episódios todos, né? Com certeza, nossa situação, Força Aérea, está um pouco fragilizada, né, com o gabinete, com o próprio PR (presidente da República), pelas questões que surgiram devido àquela c* do Silva Rodrigues (Manuel Silva Rodrigues, o sargento preso no caso da cocaína)“.

Antes dessa instrução, o mesmo áudio trata de outro assunto que interessava ao gabinete presidencial: a disponibilização de aeronaves para missões de preparação das viagens de Bolsonaro.

Como o Metrópoles mostrou nesta quarta-feira (5/7), listas de passageiros mantidas sob sigilo e um conjunto de mensagens internas do GSI mostram que, durante o governo Bolsonaro, a então família presidencial usou aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para participar de eventos privados, como cultos religiosos, e para transportar amigos, parentes, pastores e até uma cadela de estimação do deputado Eduardo Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro.

Com base em dados oficiais do GSI relativos aos quatro anos em que Bolsonaro esteve no Palácio do Planalto, a reportagem mapeou mais de 70 viagens da família — todas feitas sem que o próprio Bolsonaro estivesse a bordo.

Para além de informações sobre essas viagens, como detalhes dos deslocamentos e as listas detalhadas dos passageiros convidados, mensagens de um grupo de WhatsApp usado como canal oficial de comunicação pelos funcionários do GSI encarregados de providenciar os jatinhos revelam que os pedidos eram tratados como ordens — tudo sob a coordenação de altos oficiais das Forças Armadas que chefiavam o setor. O áudio, agora, ajuda a entender que a orientação para que as demandas fossem atendidas vinha de cima.

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