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       (Crédito: Montagem sobre fotos: Mateus Bonomi/AGIF/AFP; Luciano Claudino/Código19)

Por-Carlos José Marques

O presidente está determinado. Não quer de jeito algum que o petróleo mele a sua reeleição. E percebeu que o risco é alto nesse sentido. A combinação de guerra no Leste Europeu com política de preços da Petrobras em paridade com o mercado internacional – padrão, aliás, em boa parte dos países – pode, na verdade, colocar tudo a perder. A Rússia fez um alerta, em tom de ameaça, perigoso que assustou as nações consumidoras. Disse que o valor do barril pode chegar a US$ 300 se os EUA e a Europa banirem as importações de suas reservas. Fez mais: apontou que deve cortar o gás do continente interrompendo o fluxo no principal duto que atravessa a União Europeia a partir de seu sistema até a Alemanha. Decerto, a rejeição ao óleo russo teria consequências catastróficas para a economia global. Quase 40% do gás e 30% do petróleo consumidos na Europa vêm dali. No caso da bravata de Putin, pode ser um blefe, mas, pelo sim ou pelo não, a alta do barril em boa escala e de todo modo já está precificada. Não se fala em outra coisa e o Brasil particularmente ainda depende muito do combustível fóssil. A disparada de aumentos chega em um momento não apenas político como também econômico delicado por aqui. A inflação mostrou a carranca de uma alta desmedida — devido à Covid, à má gestão de contas públicas e até por ausência de um plano estruturado de governo para a retomada. Circunstâncias combinadas à péssima pilotagem de Bolsonaro em Brasília, uma nulidade operacional que nem mesmo privatizações ou plano de investimentos em infraestrutura foram capazes de fazer. O presidente do jet ski, que aboliu até os impostos desse tipo de possante e mesmo dos barcos a vela (para quê, ninguém sabe), tomou ciência da encrenca porque o assunto atropela as suas ambições pessoais. E ele não quer isso de jeito algum. O custo do petróleo é pedra de toque de diversas mercadorias, de quase toda a cadeia de preços, e não há um único consumidor/eleitor que não esteja sentindo a pancada de seu avanço. Aí vem o outro lado da barbeiragem: o mandatário tenta resolver isso ao seu modo, manipulando a liberdade tarifária, intervindo artificialmente no movimento com a mão grande e constitucionalmente ilegal sobre a Petrobras. A estatal, que vem perdendo valor nos papéis e irritando os demais acionistas a cada declaração tresloucada do capitão, não consegue ser competitiva e independente para crescer com tanta ingerência de cima. Em um único dia na última semana, por exemplo, os títulos da companhia desabaram nada menos que 7%. É um despropósito. Esse governo que se elegeu com a lorota de incorporar um conceito de liberalismo, jamais colocado em prática, mostrou a fuça interventora por intermédio do presidente que repete muito dos antecessores, fazendo populismo barato com o capitalismo alheio.

Bolsonaro agora quer porque quer que a Petrobras baixe o valor dos combustíveis na marra. Fez reunião de emergência com o seu “Posto Ipiranga”, o ministro Paulo Guedes, para exigir uma forma de alcançar tal objetivo o mais rápido possível. Trataram da adoção de subsídios. O presidente reclamou de “uma legislação errada feita lá atrás que você tem uma paridade com o preço internacional”. Não deixou margem de dúvidas sobre a intenção de mexer nisso. O ministro, em resposta, espera ao menos que a solução passe pelo Congresso Nacional, transferindo o ônus da responsabilidade de alteração de regras para o outro lado. A conta do subsídio extra pode chegar a R$ 20 bilhões para sanar o que tanto Guedes quanto Bolsonaro vêm chamando de “lucros abusivos” da estatal. Não é de hoje, Petrobras e seu estupendo ouro negro ocupam as mentes de postulantes ao Planalto com vontades intervencionistas, ano após ano de corrida às urnas. É o assunto número um, preferido, de quatro em cada cinco deles. E sempre aparece nas plataformas de campanha pela ótica errada. Uma empresa do porte da Petrobras não poderia jamais ficar ao sabor dos desejos dos políticos. Sua independência administrativa deveria ser obedecida como regra basilar. De olho na reeleição, Bolsonaro não terá escrúpulos de mexer na política de preços de forma equivocada e empurrará o custo da gambiarra para os brasileiros que, mais cedo ou mais tarde, de uma maneira ou de outra, serão sim os principais prejudicados. Mais uma vez.

 

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