A operação militar durará semanas, Putin buscará a ocupação total e o pós-guerra será duradouro, segundo cálculos das capitais ocidentais
MADRI, WASHINGTON E PARIS
- A guerra entre Rússia e Ucrânia ficará mais intensa nas próximas
semanas, Vladimir Putin buscará o controle total do país e a ocupação pode se
prolongar por anos, segundo cálculos feitos por várias capitais ocidentais, 12
dias depois do início da invasão. A agressão russa bateu de frente com uma
resistência maior DO que esperava Moscou, embora apenas alguns líderes
acreditem que ela poderá parar os russos. A maioria dos paúses da Otan
(Organização do Tratado do Atlântico Norte) está convencida de que o presidente
Putin quer chegar até o final e que nas próximas semanas os ataques aumentarão.
Estes são cenários que
se são imaginados em capitais ocidentais. Quase todos preveem uma guerra longa
e sangrenta.
Primeiro cenário: O
milagre de Dniéper
Segundo este cenário, que o centro de estudos Atlantic
Council chama "O milagre do (rio) Dniéper", os ucranianos, ajudados
por suprimentos de armas de aliados, impedem o avanço russo. Putin se retira,
sujeito ao isolamento internacional e a sanções ocidentais.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken,
disse à BBC na sexta-feira que a vitória da Rússia não deve ser dada como certa.
Se a intenção de
Moscou é derrubar o governo e instalar um regime fantoche, 45 milhões de
ucranianos vão rejeitá-lo de uma forma ou de outra — disse ele.
Uma vez que se supõe que os países ocidentais não irão
intervir diretamente, a ideia é que sanções e armas dificultarão as coisas para
Putin e o forçarão a mudar seu comportamento. Nas palavras de uma fonte do
Palácio do Eliseu, que pediu anonimato, trata-se de "aumentar o preço da
guerra para que ele renuncie" a ela.
Mas na quinta-feira, após uma conversa telefônica entre Putin
e o presidente francês Emmanuel Macron, a mesma fonte do Eliseu disse:
A antecipação do
presidente, levando em conta o que o presidente Putin lhe disse, é que o pior
ainda está por vir.
François Heisbourg, diretor do Instituto Internacional de
Estudos Estratégicos e conselheiro especial na francesa Fundação para a
Pesquisa Estratégica, ressalta:
Vladimir Putin mostrou
que, diante das dificuldades, não reduz suas ambições, mas aumenta seus meios.
Segundo cenário: A
guerra se intensifica até a ocupação total
A operação militar em si vai durar semanas, e não meses, mas
a guerra será mais longa e a o pós-guerra pode durar anos e ter um resultado
incerto. É o diagnóstico que fazem os principais assessores militares do
governo espanhol.
Os aliados da Otan calculam que Kiev pode cair em cinco ou 10
dias, mas não será o fim da guerra, aponta uma fonte diplomática. Então
começará uma guerra de guerrilha em que a resistência ucraniana se beneficiará
de armas ocidentais, como os mísseis de terra-ar Stinger, os mesmos que foram
usados pelos combatantes islâmicos afegãos na década de 1980 e tornaram a vida
impossível para os ocupantes soviéticos.
Este cenário foi corroborado por altos funcionários do
governo Biden nesta semana em uma sessão a portas fechadas no Capitólio. De
acordo com alguns congressistas, o governo dos EUA prevê uma luta feroz pela
capital, Kiev, que pode ser resolvida em favor da Rússia em questão de semanas,
e que o conflito pode piorar e durar anos.
A estratégia russa, segundo fontes espanholas, consiste em
estrangular as grandes cidades ucranianas para forçar a rendição da Ucrânia. Se
o governo ucraniano não se render, o Exército russo entrará com sangue e fogo e
causará um grande número de vítimas civis, pelas quais culpará o presidente
ucraniano, Volodymyr Zelensky.
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cerco econômico imposto pelo Ocidente em represália à invasão da Ucrânia
O resultado, de acordo com esses cálculos, levaria à ocupação
total da Ucrânia.
Nossa análise das
operações militares em andamento é que a ambição russa é, de fato, assumir o
controle de toda a Ucrânia — disse a fonte francesa.
Macron não vê a divisão do país como um cenário provável: ele
considera que o que Putin quer é controlar toda a Ucrânia e, de qualquer forma,
uma divisão continuaria a violar a soberania do país invadido e seria
igualmente inaceitável.
Heisbourg, da Fundação para a Pesquisa Estratégia, observa:
Este é o cenário básico: a tomada das grandes cidades
ucranianas em todo o território, porque querem impedir que um governo legítimo
continue presente na Ucrânia.
As fontes consultadas em Madri detalham que o resultado mais
provável da guerra será o surgimento de um novo país, Nova Rússia ou
Novorróssiya. Este projeto de confederação foi sugerido pela primeira vez em
1014 pelos separatistas pró-Moscou de Luhansk e Donetsk, no Leste da Ucrânia.
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civis continuam presos em Mariupol, sem água, luz e aquecimento
Em sua versão mais modesta, segundo essas fontes, o novo
Estado cobriria do Donbass, no Leste da Ucrânia, à Crimeia, incorporando
Mariupol e transformando o Mar de Azov, contíguo ao Mar Negro, em um mar
interior russo. Em sua versão mais ambiciosa, o novo país se conectaria com a
Transnístria, região separatista da Moldávia, e anexaria Odessa, privando a
Ucrânia do acesso ao mar. O lógico, nesse cenário, seria Putin anexar a Nova
Rússia, como fez com a Crimeia, mas poderia mantê-la como república satélite.
A estratégia de Putin, estimam os estrategistas espanhóis,
envolve instalar um governo fantoche em Kiev, que se comprometeria a não
incorporar a Ucrânia à Otan ou à União Europeia. Para garantir seu controle,
Putin manteria as tropas russas aquarteladas na Ucrânia, mas impedindo-as de
patrulhar para não serem alvo de uma resistência transformada em guerrilha.
Isso, reconhecem as fontes espanholas, se assemelharia muito à França ocupada
por Hitler com o regime colaboracionista de Vichy.
A questão é quanto tempo Putin poderá manter este esquema, se
tornando um pária internacional. com a Ucrânia ocupada e enfrentando uma
população local esmagadoramente hostil.
Terceiro cenário:
Rússia avança além da Ucrânia e desafia diretamente a Otan
"Algo bastante provável é que, depois da Ucrânia, Putin
assuma o poder na Moldávia", diz Heisbourg. Mas essa situação hipotética,
sustenta o conselheiro da Fundação para a Pesquisa Estratégica, eva a um
terceiro cenário, no qual Putin tentaria recriar na Europa a situação anterior
à expansão para o Leste europeu.
Imagine que Putin
acabou de ganhar a guerra na Ucrânia. Ele tomou o poder na Moldávia. Pela
primeira vez, tem uma fronteira político-militar contínua desde o Cabo Norte,
na Noruega, até o Mar Negro. De um lado estão as tropas russas e de outro as
tropas dos países da Otan com riscos de acidentes e ações violentas
involuntárias. Então Putin pode dizer a si mesmo: "Vou tentar dividir os
ocidentais".
Os Balcãs podem ser um terreno propício para turbulências. O Eliseu destaca: "Estamos muito atentos ao que a Rússia pode fazer em seu entorno imediato".