Armamento, afronta ao STF e pautas de costumes são as bolas da vez do presidente para aumentar sua popularidade
Por-João Vitor Revedilho
Em ritmo de campanha, o presidente Jair Bolsonaro (PL) inflou
seus apoiadores com promessas antigas, mas não cumpridas nos últimos quatro
anos. Em pronunciamento nesta segunda-feira (25), na abertura da Agrishow, em
Ribeirão Preto, o presidente retomou a promessa de armar a população e voltou a
desafiar o Supremo Tribunal Federal.
A tentativa de Bolsonaro é um aceno aos eleitores de 2018 que
deixaram de apoiar o hoje candidato à reeleição pelo PL após a perda de força
das pautas de costume. O Planalto enfrentou resistência no Congresso Nacional,
além de precisar segurar cargos para aliados do Centrão, o que dificultou o
avanço de pautas impopulares do bolsonarismo.
Em pronunciamento na abertura da Agrishow, o chefe do
Executivo voltou a defender o armamendo da população. Para Bolsonaro, é
necessário armar "cidadãos de bem" para bater de frente com o
criminosos.
"Se o fuzil está na mão do vagabundo por aí, é porque é
proibido para nós. Nossa política é para atender o cidadão de bem",
afirmou.
O presidente ainda ressaltou a cobrança feita ao Ministério
da Defesa para afrouxar a burocracia para adquirir a posse de arma de fogo. A
previsão do Planalto é receber 100 mil pedidos para armamento neste ano.
"Eu determinei que tomasse providência para desburocratizar mais ainda o
que for possível. Eu não estou preocupado com o que vão falar por aí",
concluiu.
A promessa também fez parte da campanha eleitoral de
Bolsonaro em 2018, mas as sucessivas crises adiaram os planos do governo. Com a
pressão do Planalto e da chamada "Bancada da Bala" no Congresso
Nacional, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto que altera as regras para
acesso a armas. Entretanto, o Senado ainda tem dúvidas sobre a proposta e o
texto não tem data para ser pautado na Comissão de Constituição de Justiça
(CCJ).
"Apenas Deus me tira da cadeira"
Cercado de apoiadores, Bolsonaro afirmou que apenas Deus o
tira da cadeira presidencial. A declaração acontece em meio aos ataques de
bolsonaristas ao sistema eleitoral do país.
"Eu jamais esperava ser presidente da República. Já que
aconteceu, entendo que é uma missão de Deus. A Ele eu agradeço a minha vida e
essa missão. E reforçar aqui: só Deus me tira daquela cadeira", disse.
"Não somos corajosos não, somos apenas coerentes. E a
coerência é uma coisa que tem que ser inerente à política. Só discurso não
resolve, principalmente discurso em época de eleições", concluiu.
Essa não é a primeira vez que Bolsonaro usa a frase para
inflamar seus eleitores. Em eventos no Palácio do Planalto e em dia de
julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o presidente atacou o sistema
eleitoral e reafirmou a manutenção da cadeira presidencial em seu poder.
Cargos técnicos no governo
O presidente ainda lembrou de nomes técnicos vinculados aos
seus ministérios, outra de suas promessas de campanha em 2018. Entre eles,
citou Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente. Salles, porém, é advogado e
político, além de ser próximo de Bolsonaro. Ele pediu demissão após
investigações no STF contra sua gestão à frente da pasta.
"Posso não ser o melhor presidente do Brasil, mas sou
aquele que leva ao pé da letra a missão que me deram de conduzir o destino do
Brasil da melhor forma possível. Isso eu tenho demonstrado ao escolher
ministros técnicos, ao não aceitar indicação política para ministérios", disse.
Atualmente, entretanto, o governo conta com Paulo Guedes
(Economia), Marcelo Queiroga (Saúde), Marcelo Sampaio (Infraestrututra),
Augusto Heleno (GSI), Carlos França (Itamaraty), Paulo Sérgio Nogueira
(Defesa), Bruno Bianco (AGU) e Wagner Rosário (CGU) entre os nomes técnicos. Ou
seja, das 23 pastas que compõem o governo Bolsonaro, apenas oito contam com
experiência técnica para os cargos.
Disputas com o STF
Em pronunciamento, Bolsonaro voltou a afrontar decisões do
Supremo Tribunal Federal. O presidente reafirmou o cumprimento do indulto dado
ao deputado federal Daniel Silveira, condenado pelo STF por organizar atos
antidemocráticos.
"No passado soltavam bandidos. Hoje solto
inocentes", afirmou.
O chefe do Planalto ainda ameaçou não cumprir decisões que
envolvem a demarcação de terras indígenas. Bolsonaro sugeriu "entregar as
chaves" das terras ao STF ou não cumprirá a determinação. "Dentro do
STF, tem uma ação levada avante querendo um novo marco temporal. Se conseguir
vitória nisso, me resta duas coisas. Entregar as chaves para o Supremo ou falar
que não vou cumprir. Eu não tenho alternativa", disse.