Partido de Bolsonaro diz que verificação completa seria 'medida açodada' que poderia causar 'tumulto' (Por Mariana Muniz e Jussara Soares)
Em resposta ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), Alexandre de Moraes, o PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, enviou
nesta quarta-feira um novo documento em que não apresenta a análise dos
equipamentos usados na primeira etapa da votação. A nova petição também não
estende o pedido de verificação do resultado ao primeiro turno, como havia sido
determinado pela Corte.
Segundo a sigla, apresentar um relatório completo sobre as
eleições, incluindo o primeiro turno, seria uma "medida açodada" que
poderia afetar "todos os candidatos que foram eleitos". Na prática,
ao limitar o pedido ao segundo turno, o PL quer evitar colocar dúvidas sobre a
votação na qual elegeu as maiores bancadas do Congresso, com 99 deputados e 8
senadores, além de dois governadores. As mesmas urnas usada na votação
presidencial, porém, também foram usadas na primeira etapa das eleições.
O novo documento foi encaminhado pelo PL após Moraes dar um
prazo de 24 horas para que a coligação de Bolsonaro estendesse a análise que
fez das urnas também para a primeira etapa do pleito, "sob pena de
indeferimento da inicial".
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do STJ
"Ocorre que, neste momento embrionário, estender a
verificação extraordinária pretendida também para o primeiro turno parece ser
medida açodada, especialmente porque, como efeito prático, traria a própria
inviabilidade da medida ora pretendida, em razão da necessidade de fazer
incluir no polo passivo da ação todos os milhares de candidatos que disputaram
algum cargo político nessas eleições, bem como seus Partidos, Coligações e
Federações", diz o PL no novo documento encaminhado ao TSE.
Na representação, a coligação de Bolsonaro aponta um suposto
problema em parte dos modelos de urnas eletrônicas utilizadas nas eleições, o
que, segundo o documento, impediria a auditoria dos votos depositados nelas.
Entretanto, especialistas afirmam que o problema apontado não impossibilita a
conferência dos votos.
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atuação da Abin no caso Jair Renan
Em entrevista sobre ação na sede do PL, o presidente da
legenda, Valdemar da Costa Neto, afirmou que intenção ao apresentar a ação
"não é impedir a posse de ninguém".
A nossa vontade não é
atrapalhar a campanha, não é impedir a posse de ninguém. A nossa vontade é que
se cumpra a lei. A lei é clara. Se tiver indício, isso não pode ser
considerado, essa urna não pode ser considerada disse o ex-deputado federal.
Como mostrou o GLOBO nesta terça-feira, antes de apresentar o
relatório, Valdemar conversou com o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar
Mendes para manifestar confiança nas urnas eletrônicas.
Na conversa, segundo relatos feitos à reportagem, o cacique
do PL disse ainda estar desconfortável com a pressão interna de bolsonaristas
da legenda para que o documento fosse encaminhado.
De acordo com interlocutores do STF, Valdemar teria dito ao
decano da Corte que a iniciativa de apresentar o documento elaborado por
técnicos contratados pelo partido é uma tentativa de não desagradar a
militância bolsonarista dentro do partido, que conta com pelo menos 50
deputados. Numa maneira de se distanciar da iniciativa, porém, o presidente do
PL teria dito não acreditar que o envio do relatório ao TSE terá qualquer
resultado prático.
Interlocutores do PL que mantém contato com ministros do
Supremo relataram ainda que o advogado Tarcísio Vieira de Carvalho, que e é
ex-ministro do TSE e defendeu Bolsonaro na campanha, demonstrou resistência em
assinar o documento entregue à Corte. Por isso, o relatório conta com a firma
de Marcelo Bessa, advogado criminalista que defendeu Valdemar no caso do
mensalão.
Não é a primeira vez que Valdemar contraria nos bastidores a
ala do PL ligada a Bolsonaro. Em 2021, em meio a um movimento no Congresso
sobre o voto impresso, bandeira dos bolsonaristas, Valdemar atuou como um dos
principais articuladores para que a proposta fosse rejeitada.
Os mesmos modelos de urnas questionados pelo partido do hoje presidente também foram utilizados nas eleições de 2018, quando Bolsonaro foi eleito.