Menção a ambos foi feita no primeiro depoimento do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro em seu acordo de delação premiada, em agosto de 2023; nenhum dos dois foi indiciado no relatório final da PF sobre tentativa de golpeEduardo e Michelle
Bolsonaro são citados no primeiro depoimento de Mauro Cid, mas negam ter
participado de trama golpista
As informações foram obtidas pelo jornalista Elio Gaspari,
da Folha
de S. Paulo, que obteve a íntegra do documento. O depoimento, o
primeiro entre mais de dez, é de 28 de agosto de 2023, tem seis páginas e
menciona mais de 20 pessoas.
Mauro Cid afirmava, em 28 de agosto de 2023, que
existia um grupo de conselheiros radicais de Bolsonaro que
defendiam um golpe de Estado e a não aceitação da derrota nas
eleições de 2022. "Tais pessoas conversavam constantemente com o
ex-presidente, instigando-o para dar um golpe de Estado, afirmavam que o
ex-presidente tinha o apoio do povo e dos CACs [Colecionadores, Atiradores
Desportivos e Caçadores] para dar o golpe", diz a transcrição do
depoimento. Entre eles, estariam Michelle e Eduardo, segundo o ex-ajudante de
ordens.
Em novembro de 2023, o portal Uol havia
antecipado a informação, mas a íntegra do depoimento ainda não tinha vindo a
público. Na época, tanto Michelle quanto Eduardo negaram as afirmações do
ex-ajudante de ordens. O então advogado do casal, Paulo Cunha Bueno,
afirmou que Bolsonaro ou seus familiares "jamais estiveram conectados
a movimentos que projetassem a ruptura institucional do país. "Querer
envolver meu nome nessa narrativa não passa de fantasia, devaneio", disse
na ocasião o deputado federal paulista.
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O relatório final da Polícia Federal sobre a
investigação da trama golpista, encaminhado à Procuradoria-Geral da República
(PGR), não traz nem a ex-primeira-dama e nem o filho do ex-presidente como
indiciados. Ambos são cogitados como possíveis candidatos à presidência
da República em 2026.
Três grupos em torno de Bolsonaro
Segundo o primeiro depoimento de Cid, havia três grupos
gravitando em torno de Jair Bolsonaro após a derrota nas eleições de 2022. Um
deles pregava que o então presidente aceitasse os resultados eleitorais,
assumindo o papel de líder da futura oposição ao presidente eleito, Luiz Inácio
Lula da Silva. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o chefe da Casa
Civil, Ciro Nogueira; o advogado-geral da União, Bruno Bianco, e o
brigadeiro Baptista Júnior, comandante da Força Aérea, estariam entre eles.
Já um segundo grupo afirmava que "nada poderia ser
feito diante do resultado das eleições" e temiam que alguns dos
conselheiros levassem Bolsonaro a "assinar uma 'doideira'". Estavam
entre estes os generais Freire Gomes, comandante do Exército; Paulo Sérgio
Nogueira, ministro da Defesa; e Júlio César de Arruda. O empresário do
agronegócio Paulo Junqueira, "que financiou a viagem do presidente
para os EUA", segundo Cid, defendia que Bolsonaro deixasse o país.
O terceiro grupo era favorável a medidas golpistas e
composto por duas alas, conforme o primeiro depoimento do ex-ajudante de
ordens. Uma buscava encontrar indícios de fraudes nas urnas eletrônicas para
justificar uma eventual virada de mesa e outra, mais radical, era "a
favor de um braço armado".
Cid aponta que essas pessoas "gostariam de alguma forma
incentivar um golpe de Estado", defendendo que Bolsonaro assinasse um
decreto de exceção, acreditando "que quando o presidente desse a ordem ele
teria apoio do povo e dos CACs".
"Quanto a parte mais radical", diz o relato do
depoimento de Cid, "não era um grupo organizado, eram pessoas que se
encontravam com presidente, esporadicamente, com a intenção de exigir uma
atuação mais contundente do então presidente".
O tenente-coronel menciona nominalmente como integrantes
deste grupo, além de Eduardo e Michelle, Felipe Martins, ex-assessor para
Assuntos Internacionais de Bolsonaro; Onyx Lorenzoni, ex-ministro em
quatro pastas distintas na gestão Bolsonaro; Gilson Machado, ex-ministro
do Turismo; o general Mario Fernandes, secretário-executivo da
Secretaria-Geral da Presidência, e os senadores Jorge Seif (PL-SC) e Magno
Malta (PL-ES). Entre os nomes citados, somente Felipe Martins e Mario Fernandes
foram indiciados pela PF no relatório final da trama golpista.
Da Redação