Evento no Rio de Janeiro busca reforçar multilateralismo e impulsionar o grupo que hoje representa o Sul Global
O Ministro Mauro Vieira participa da Primeira Reunião de Sherpas da presidência brasileira do BRICS - 25/02/2025 - Brasília-DF (Foto: Leticia Clemente/MRE)Com a recente ampliação do Brics — que agora reúne Brasil,
Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes
Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã —, a diplomacia brasileira vê a oportunidade
de articular uma agenda voltada para a reforma da governança global, incluindo
a defesa da ONU e da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Os chanceleres se reúnem no Palácio do Itamaraty, no Rio,
onde devem negociar o texto da declaração final a ser assinada na cúpula de
líderes, prevista para julho também na capital fluminense. Entre os temas
prioritários estão mudanças climáticas, regulamentação da inteligência
artificial, reforma do Conselho de Segurança da ONU e fortalecimento das
instituições multilaterais.
Segundo diplomatas brasileiros, a presença de novos membros
com forte influência no Oriente Médio, como Arábia Saudita, Emirados Árabes
Unidos e Egito, pode dar mais peso às propostas do Brics sobre a crise em
Gaza.
No que diz respeito à guerra no Leste Europeu, o contexto é
igualmente desafiador. Com os Estados Unidos ameaçando se afastar das
negociações de paz e a União Europeia mantendo apoio firme à Ucrânia, o Brics
terá de lidar com o protagonismo da Rússia, que ocupa território ucraniano.
O Brasil pretende dar ênfase à necessidade de reformar o
Conselho de Segurança da ONU, pleiteando apoio para sua candidatura a uma vaga
permanente. A China é vista como um aliado estratégico nessa empreitada,
enquanto a Rússia já manifestou apoio anteriormente.
A revitalização da OMC também é uma prioridade brasileira e
pode funcionar como resposta à política comercial de Donald Trump, segundo
fontes do governo citadas pela reportagem. O órgão multilateral vem enfrentando
uma crise de credibilidade e enfraquecimento de suas funções, o que preocupa
países em desenvolvimento.
A China defende que o Brics reaja de maneira mais explícita
ao tarifaço implementado por Trump, transformando o tema em destaque na
cúpula.
Além da tradicional carta dos líderes, o Brasil propõe a
adoção de dois documentos adicionais: um sobre financiamento climático e outro
sobre governança da inteligência artificial. A estratégia é reforçar que a luta
contra as mudanças climáticas deve ser acompanhada do combate às desigualdades
globais, pressionando os países desenvolvidos a cumprir seus compromissos no
âmbito do Acordo de Paris.
Sobre o papel da inteligência artificial, o Itamaraty quer
destacar seu uso como ferramenta de inclusão social e de avanço em áreas
estratégicas, evitando que apenas as grandes potências dominem seu
desenvolvimento.
Por fim, os chanceleres deverão discutir critérios para o
ingresso de novos membros no Brics. Atualmente, os requisitos incluem manter
boas relações diplomáticas com todos os integrantes, ser membro da ONU e não
adotar sanções sem aprovação do Conselho de Segurança.
O encontro no Rio de Janeiro será decisivo para definir os
rumos do Brics em um cenário internacional cada vez mais fragmentado, no qual o
fortalecimento do multilateralismo é visto como caminho necessário para a
construção de uma nova ordem mundial mais equilibrada.
Da Redação