Sociólogo diz que média brasileira reflete o abuso do uso da força policial, indicando que ela está sendo utilizada não para preservar vidas, mas para matar civis
Estudo realizado em nove países da América Latina e Caribe
revelou que, em 2022, para cada policial morto em serviço no Brasil, 251 civis
foram assassinados pela polícia. Esta proporção mais que dobrou em comparação
com 2020, quando 114 civis morreram para cada agente de segurança assassinado.
Os dados estão na 3ª edição do Monitor do Uso Letal da Força na América Latina
e no Caribe, divulgado nesta terça-feira (16). Este índice no Brasil representa
o maior registrado na história do monitor, que analisa 12 indicadores de uso e
abuso da força na região.
Em números absolutos, 5.619 civis foram mortos por policiais
no Brasil em 2022, enquanto o país registrou 22 mortes de policiais em serviço
no mesmo período.
Especialistas atribuem essa alta letalidade policial ao
aumento de lideranças políticas radicais como o ex-presidente Jair Bolsonaro,
que durante seu governo defendeu a ampliação do excludente de ilicitude e a
flexibilização das políticas de controle de acesso a armas, incentivando o uso
da força policial como um elemento de popularidade.
O Brasil supera todos os países analisados em taxa de civis
mortos em relação ao número de agentes de segurança, com 11,28 civis mortos
para cada 1.000 policiais. Em segundo lugar estão Trinidad e Tobago (5,96) e
Jamaica (5,77).
Para Ignacio Cano, sociólogo do Laboratório de Análise da
Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, essa média brasileira
reflete o abuso do uso da força policial, indicando que ela está sendo
utilizada não para preservar vidas, mas para matar civis.
Comparando as mortes cometidas por policiais em relação ao
total de homicídios em 2022, o Brasil (11,8%) fica atrás apenas de El Salvador
(15%), ambos superando o limite considerado aceitável por estudiosos, que é de
10%.
O estudo visa traçar padrões regionais de letalidade policial,
analisando países com cenários similares em violência e buscando estabelecer
comparações entre eles.
Destaca-se o exemplo da Colômbia, que obteve sucesso na
redução da violência e implementou reformas na força policial, resultando em
valores relativamente baixos na maioria dos indicadores.
Os dados do estudo foram coletados a partir de bancos de dados públicos oficiais e de números produzidos pela imprensa. Em alguns países, como Chile, Peru, Venezuela, Brasil e Jamaica, não foi possível obter dados oficiais.