Em relação ao total de casos graves, a letalidade é de 4,21% em 2024 contra 5,22% em 2023
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) destacou que o
Brasil controlou o número de mortes na atual epidemia de dengue. Apesar de ter
alcançado em 2024 quase o dobro da quantidade de casos de todo o ano passado,
houve uma redução proporcional no registro de óbitos. A Opas é o braço da
Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas.
Esse é um ponto muito
importante, ter um aumento de transmissão e não ter um aumento significativo de
óbitos – avalia o especialista em
arboviroses da representação da Opas no Brasil, Carlos Melo. Arboviroses são
doenças causadas por vírus transmitidos, principalmente, por mosquitos, como o
Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya.
A gente não deve olhar
unicamente a questão da transmissão e do número de casos. A gente tem que ter
um olhar para o óbito, que é o primeiro objetivo no controle de uma epidemia,
diminuir o número de óbitos e depois diminuir casos graves – completou Melo,
que participou nesta quinta-feira (11) de um seminário organizado pela Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.
O encontro acontece no cenário em que o Brasil atinge 3,1
milhões de casos prováveis de dengue nas 14 primeiras semanas de 2024. O dado
foi divulgado na quinta-feira (11). Isso representa 1.529 casos para cada cem
mil habitantes. Em 2023, o país fechou o ano com 1,6 milhão de registros totais.
Segundo o Ministério da Saúde (MS), nove unidades federativas
estão com tendência de queda no quantitativo de casos; 13 apresentam estabilidade;
e cinco, tendência de alta.
Já foram confirmadas 1.292 mortes por causa da dengue,
enquanto 1.875 estão sob investigação. Isso representa uma letalidade sobre o
total de casos prováveis de 0,04% no ano. Em 2023, no mesmo período, o índice
era de 0,07%.
Em relação ao total de casos graves, a letalidade é de 4,21%
em 2024 contra 5,22% em 2023.
Carlos Melo atribui a redução proporcional do número de
mortos ao conjunto de ações coordenadas pelo Ministério da Saúde, que inclui
vacinação focada no público mais atingido por casos graves e a assistência aos
pacientes.
O representante da Opas afirma que não há uma solução única
para mitigar ao máximo a epidemia de dengue. É preciso, na visão dele, atuação
em várias frentes, como vacinação, tecnologias científicas, como os mosquitos
contaminados com a bactéria Wolbachia – que impede a transmissão do vírus – e
ações que combatam determinantes sociais.
Entre os fatores sociais que contribuem para o avanço da
doença, ele cita falta de saneamento básico, abastecimento irregular e
necessidade de armazenamento de água, urbanização não controlada, manejo
inadequado de resíduos sólidos e a existência de cinturões de pobreza nas
grandes cidades, por exemplo.
A coordenadora-geral de Vigilância de Arboviroses do
Ministério da Saúde, Livia Vinhal, concorda com a avaliação. “A gente precisa
trabalhar com o conjunto de estratégias que somadas poderão, sim, impactar na
redução dos casos”.
Lívia Vinhal entende que a vacinação colabora no
enfrentamento da doença, mas acredita que os resultados poderiam ser melhores
caso a imunização fosse feita com apenas uma dose.
O Brasil usa a vacina Qdenga, produzido pelo laboratório
japonês Takeda. A imunização se alcança com duas doses, com intervalo de 90
dias entre elas. A vacina é segura, e o uso foi aprovado pela Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Uma vacina que seja dose única é o ideal. A gente conseguiria fazer [ações preventivas], inclusive, em momentos de surto, como a gente pode fazer, por exemplo, para febre amarela”.